Opinião

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20 de setembro de 2023

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA

For all

Disse o pensador chinês Confúcio que “Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo”. A insatisfação generalizada que se observa na sociedade, seja com a política e seus representantes, seja com o relativo caos que se instalou em nosso país nos seus mais diversos segmentos (segurança, saúde, educação, trabalho…) é momento propício para refletirmos sobre os modelos que temos seguido ao longo de nossas vidas e onde eles nos trouxeram.

E, mais ainda, como partícipes e também construtores da sociedade em que vivemos, que exemplo pessoal temos sido. Temos melhorado ou tornado pior o mundo? Somos dignos de ser imitados, também (afinal, em leitura reversa de Sartre, o inferno não são só os outros, não, somos nós, inclusive)?

Esperança
Em meio à crise generalizada em que vivemos nos dias atuais, sob todos os aspectos, talvez a sua vida esteja um caos também, sem perspectiva de mudança para melhor ou de superação das dificuldades, a caminho da ‘falência’. Mas, com certeza, algo de bom, de positivo, ainda resta em sua vida e em que valha a pena investir, valorizar, em que se firmar. Mantenhamos o foco nisso, sem esmorecer, e outras portas certamente se abrirão. E o que era impossível, antes, pode se tornar realidade.

Pacificação
O embate violento que se observa no cenário político brasileiro, com desdobramentos de igual intensidade no Judiciário – o que não tem sido “privilégio” nosso, pois, também, se reproduz em parte da Europa e nos Estados Unidos -, tem encontrado seus defensores e alimentadores em figuras extremas, com representação, aqui, indistintamente, nos três poderes da república (e também no nosso meio social), que se manifestam de forma pública, ostensiva e personalista, variando no espectro, da truculência ao histerismo.

Nós os vemos diuturnamente em jornais e em todas as mídias sociais. Desnecessário nomeá-los. Ignoram que a construção duradoura de um país mais justo, de um mundo melhor para todos passa, necessariamente, pela via do diálogo e do respeito mútuo, em processo gradativo de crescimento. O oposto não se sustenta. É o que nos ensinam a história, a ciência e o bom senso.

Liberdade
Um mundo globalizado, que caminha aceleradamente para a era fria e indiferente da digitalização de tudo, da automação, da virtualização, do domínio dos algoritmos e da inteligência artificial em todos os ramos da atividade humana, transformando o ser humano em dados numéricos, apenas, e cada vez mais descartável, precisa de um contraponto.

Neste aspecto, destaca-se a necessidade de se afirmar e reafirmar a autonomia decisória do indivíduo e das nações, sem se desconsiderar, por óbvio, as suas interações em sociedade e no concerto global, e de lembrar o pensamento sempre atual do grande político e pensador britânico Lord Acton, ao qual nos filiamos: “…o processo histórico desenvolve-se orientado pela liberdade humana ou livre-arbítrio, no sentido de uma liberdade cada vez maior.

A defesa desta última é um imperativo moral: se o poder político se arroga o direito de comandar os atos dos homens, ele os priva de sua responsabilidade… a noção de liberdade é mais uma contribuição cristã do que greco-romana, pois o cristianismo teria revelado esse conceito em sua plenitude ao mostrar sua indissociabilidade da ideia de responsabilidade.

Intimamente associada à responsabilidade, a liberdade é uma condição necessária para atingir fins espirituais elevados… a liberdade não é um meio para atingir um fim político mais elevado. Ela é o fim político mais elevado. Não é para realizar uma boa administração pública que a liberdade é necessária, mas sim para assegurar a busca dos fins mais elevados da sociedade civil e da vida privada”.

Abaixo a ditadura
“É aos escravos, e não aos homens livres, que se dá um prêmio para os recompensar por se terem comportado bem.” (Baruch Espinoza)
Renovação e troca são princípios fundamentais da vida. É o que se pode observar em suas várias manifestações. Água estagnada, apodrece. É da natureza de um rio seguir seu curso e, ao fim, desaguar em um lago – ou no mar. Um lago que não se renova, torna-se tóxico. O mar, na sua dinâmica, no ciclo de suas águas e de suas correntes, mantém-se vivo e sustenta grande diversidade de vida.

Grosso modo, é próprio do homem e de suas organizações e instituições quererem se perpetuar e prevalecer sobre os demais, muitas vezes de forma hegemônica, absoluta. É o que se pode observar, por exemplo, de forma mais explícita, no contexto da política e da fé religiosa, na busca do poder absoluto, na eliminação ou anulação dos divergentes, sem espaço para o convívio civilizado, saudável, entre correntes diferentes de pensamento.

A história está aí para demonstrar, ao longo do tempo, dos milhares de anos da civilização, a luta pelo poder, dos impérios (babilônico, persa, romano, britânico…), das ideologias (comunismo, nazismo, capitalismo…), das religiões (judaísmo, catolicismo, protestantismo, islamismo…). Qual destes permaneceu e prevaleceu de forma absoluta?

As discussões ensandecidas e estapafúrdias nas redes sociais são reflexo claro disso. Sucumbimos, todos, sem nos apercebermos, aos totalitarismos de direita, de esquerda, religiosos… qual marionetes manipuladas de fora, por poderes alheios à nossa vontade. E, quando nos comportamos bem, de acordo com o poder de plantão, quer político, quer religioso, recebemos a nossa ração diária, que nos mantêm sempre cativos ao sistema.

Necessitamos, urgentemente, recuperar a nossa autonomia como agências livres, independentes das amarras ideológicas, sejam elas quais forem. E isso passa, obrigatoriamente, pelo autoconhecimento, pela renovação da mente e pela troca, não nos conformando com o presente estado de coisas e buscando, sempre, a verdade, que liberta.
Saúde e paz a todos!

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA, bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna