Meio Ambiente

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20 de julho de 2023

Áreas da Amazônia negligenciadas

Em uma região do tamanho da Amazônia Brasileira, é normal ter áreas de floresta investigadas por muitas pesquisas e outras que quase não são o foco de cientistas. Entretanto, um estudo publicado na Current biology pelo projeto Synergize, do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do CNPq, mostrou que essa distribuição é muito desigual. Partindo de informações de 7.694 pontos de coletas ecológicas padronizadas e somando critérios que podem influenciar a escolha do local de coleta, os cientistas criaram um modelo que estimou a probabilidade de pesquisa para todo o território.

Fatores

Foi identificado que mais da metade das terras firmes e cerca de um quarto dos ambientes aquáticos e um sexto das florestas alagáveis da Amazônia têm uma probabilidade quase nula de ser foco de pesquisas com coletas padronizadas de organismos. Fatores logísticos, como presença de meios de transporte e distância em relação a grandes cidades e centros de pesquisa, estão entre os principais influenciadores da escolha. De acordo com o modelo, cerca de 15% das áreas com menor probabilidade de pesquisa estão sujeitas a sofrer severas alterações até 2050, por conta das mudanças climáticas ou outras formas de degradação impostas pelas pessoas à natureza.

Benefícios

Além da perda da biodiversidade e dos benefícios propiciados por ela para as pessoas, também estamos perdendo a chance de entender como os organismos destes ecossistemas estão respondendo às mudanças climáticas e à degradação ambiental. “Para entender como a biodiversidade da Amazônia vai responder [às mudanças], precisamos entender como ela está organizada hoje. Assim, no futuro, quando alguma mudança acontecer, vamos ter com o quê comparar”, explica Mario Moura, autor do artigo e especialista em lacunas de conhecimento sobre biodiversidade. “Precisamos falar de um antes e um depois, e nesse momento a gente não sabe nenhum dos dois: o depois já está chegando e o antes ainda não foi construído”, lamenta Moura, que é professor visitante da Unicamp (Universidade de Campinas).

Pesquisas

As pesquisas sobre comunidades ecológicas envolvem o estudo de grupos de espécies, por exemplo formigas de uma determinada área. Para estudá-las, é necessário que o pesquisador vá até a região desejada e realize coletas seguindo padrões pré-definidos para poder estimar a diversidade de espécies e fazer comparações, com outras áreas ou ao longo do tempo. O deslocamento até o local de coleta representa um custo de tempo e dinheiro, que precisa ser incluído no orçamento do projeto. Na Amazônia, essas cifras podem ser tão altas quanto a extensão de seu território.