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A receita de Maurício de criança feliz

28 de março de 2023

O desenhista Maurício de Sousa e sua filha Mônica durante entrevista nos 60 anos do personagem Mônica./ Foto: TABA BENEDICTO.

QUADRINHOS

Há 60 anos, uma menina cruzou o caminho do Cebolinha em sua tirinha publicada na antiga Folha da Manhã de São Paulo. “Sai da flente, menina! Deixe um equiliblista passar!”, ele ordenou. No quadro seguinte, o garoto aparece caindo sentado no chão, depois de ter levado uma coelhada na cabeça. Nascia, ali, a Mônica, uma personagem forte e determinada, que inspiraria muitas gerações de crianças e seguiria caindo nas provocações do amigo gibi após gibi, e nos filmes, desenhos, peças, etc.

No aniversário de 60 anos da primeira aparição da personagem (foi no dia 3 de março de 1963), a Maurício de Sousa Produções anunciou no final de semana uma série de ações que serão desenvolvidas nos próximos 12 meses. As datas ainda não foram divulgadas, mas haverá desde comemoração da Bienal do Livro do Rio e publicações temáticas até casas da Mônica para as crianças brincarem em shoppings, espaços instagramáveis, uma tira gigante em algum prédio de São Paulo, peça de teatro, talvez a estreia do novo live-action da Turma da Mônica Jovem, e uma exposição na Casa das Rosas com Sansões estilizados por diversos artistas.

Quem conta as novidades é Mônica, a filha de Maurício de Sousa que inspirou a personagem e, de alguma forma, foi inspirada por ela. No estúdio supercolorido e repleto de personagens, brinquedos e produtos licenciados, que é um local de trabalho e também um museu, e onde dois cachorrinhos, um Bidu real e a Penha, andam por ali, Mônica e Maurício conversaram com o Estadão sobre a história da turminha, sobre a ABL e sobre o que a Mônica tem a dizer ainda hoje.

Maurício de Sousa conta que não “criou” a Mônica. “Quando eu vi tinha uma menininha arrastando um coelho quase maior que ela, de palha, que eu comprei numa feira em Mogi das Cruzes. Ela levantava, puxava, ameaçava usar de alguma maneira, principalmente contra a irmãzinha que era muito chata para ela”.

Sua filha tinha entre 2 e 3 anos, mas seu temperamento já era marcante. “Firme e forte”, na definição do pai. “Então eu não inventei nada. Olhei de lado e copiei o que estava acontecendo na minha sala de trabalho: as criançadas brincando nos meus pés, uma comendo melancia, outra com o coelho”. Os personagens foram, assim, surgindo – dessa observação do que ocorria ao seu redor e do amor aos filhos. “Fiz tudo sempre com muito carinho, e vieram os personagens mais famosos e longevos”, completa o desenhista de 87 anos.

Em casa, foi feito um trabalho para separar as coisas e mostrar que os personagens teriam uma história de vida e as crianças, outra. “Meu pai cuidou de afastar as filhas dos personagens, para eu não me achar tudo aquilo, para eu não brigar na rua”, conta hoje Mônica, aos 62 anos.

Mas uma hora ela misturou tudo. “Eu devia ter uns 6 anos, achei que eu era forte como a Mônica e fui brigar com uma menina que era três vezes maior. Levei uma bela surra e até desmaiei naquele dia”, conta ela rindo.