Opinião

Sepulcro Caiado

3 de outubro de 2024

Foto: Reprodução

GILBERTO ALMEIDA

 

Bater palmas para um aloprado midiático é fácil; difícil é aplaudir a honradez de homens bons; o aloprado faz muito barulho; o homem honrado silencioso faz do seu equilíbrio a sabedoria para a vida inteiraProf. Me. Jeferson Botelho Pereira

Que o prefeito de Passos, Dr. Diego Rodrigo de Oliveira, conseguiu articular um esquema de blindagem de sua imagem pública, afastando qualquer crítica ou denúncia que pudesse recair sobre sua gestão, isso é inegável. Mas o que realmente deixa a cidade inteira boquiaberta é o fato de que, ao longo do seu mandato, o prefeito já arrecadou mais de 600 milhões de reais a mais que o governo anterior e, até o final de sua administração, esse valor pode chegar perto de 1 bilhão. No entanto, quando se olha para as realizações concretas desse governo, o que se vê é uma administração pífia, inexpressiva e marcada pela incompetência e inoperância.

Recentemente, tive o cuidado de folhear um jornalzinho de propaganda eleitoral de Sua Excelência. O que ali se encontra não é uma exaltação de obras ou conquistas, mas sim uma confissão de fracasso. As páginas do material registram tacitamente o insucesso, a fragilidade e o desarranjo do governo, que chega ao fim sem se envergonhar de exibir como feitas realizações cujo padrão de qualidade é horripilante. Exibem-se, com pompa, obras como a instalação de semáforos, muitos dos quais sequer funcionam, e a construção de um “hospital veterinário” que nada mais é do que um terreno baldio cercado por um muro inacabado. Esse panfleto é um ultraje à inteligência da população, que se vê diante de um espetáculo de autocomplacência grotesca.

Não bastasse isso, o prefeito articulou um esquema de construção de imagem por meio de contratos milionários de publicidade, muitos deles com aparência de propaganda pessoal disfarçada. Com esse aparelho, conseguiram cegar-se a tal ponto que, mesmo diante de pacientes agonizando em filas intermináveis por exames, consultas, cirurgias e medicamentos, a verdade não consegue emergir. A verdade é que o prefeito e seus secretários – que gostam de frequentar o Cortiço do Rosário – são os grandes responsáveis pelo caos instalado na saúde e em outras áreas do município.

O que mais me espanta é a completa anulação das instituições de fiscalização, fruto de um hábil trabalho de cooptação: oferecendo cargos a irmãos, parentes e apaniguados de autoridades que deveriam fiscalizar a gestão, Diego conseguiu manter todos em estado de letargia. Com essa estratégia, foi construída uma maioria sólida na Câmara Municipal, capaz de abafar qualquer denúncia de que a população ou vereadores de oposição tentem se levantar.

Agora, a situação atingiu um novo patamar que confirmados os fatos ocorridos, poderemos descambar para uma situação de imoralidade. Até mesmo a prestigiada e respeitada Polícia Militar, orgulho de Minas Gerais, parece ter sido tragada para dentro do turbilhão de influência e manipulação política promovida pelo prefeito. Recentemente, uma transferência repentina e abrupta do comandante do Batalhão da PM em Passos, gerou uma série de rumores e questionamentos sobre os reais motivos dessa remoção. Comenta-se na cidade, e o tema já foi abordado pelo jornal eletrônico Observo e replicado na coluna de informes desta Folha, que Sua Excelência teria uma proximidade incomum com o ex-comandante, o que resultou em generosas contribuições financeiras, ainda não auditadas pelo TCE,  para ONGs ligadas à Polícia Militar e comenta se à boca pequena que existiu um “convite” para que o ex-comandante, ao se aposentar, assumisse o comando da futura Guarda Municipal – que por sua vez ainda sem atuar efetivamente, realizou um concurso que já é alvo de processos judiciais e parece estar a caminho de novas denúncias ainda mais graves. Existem comentários que o ex-comandante supostamente teria participado, fardado em reuniões de natureza política o que sendo verdadeiro pode representar uma grave infração.

Esses fatos, se comprovados, revelam um comportamento antiético e antirrepublicano por parte do prefeito e de seu governo. Sua Excelência parece esquecer que nada permanece impune neste mundo. Registre-se mais uma vez que a Justiça Eleitoral anunciou nesta Folha que já solicitou a presença da Polícia Federal para coibir o que pode configurar abuso de poder e crime eleitoral. Os fatos apontam para algo de uma magnitude muito maior do que, por exemplo, um vídeo de um candidato oferecendo uma rodada de chopp para participantes no excelente Restaurante Roda Branca, de onde, aliás, guardo boas lembranças e gostaria de frequentar mais assiduamente.

Com esse quadro dramático que desfigura as relações institucionais e mancha a transparência e a moralidade pública, nos aproximamos das próximas eleições. Até mesmo um deputado afirmou de forma desdenhosa que o povo de Passos estaria ansioso para reeleger o atual prefeito. Contudo, após os primeiros dias de campanha, a realidade eleitoral mostrou-se bem diferente do cenário que o nobre parlamentar imaginava.

É preciso dizer com clareza: o voto de quem tem consciência política, de quem não se deixa levar por campanhas de intoxicação midiática que produzem sepulcros caiados e, acima de tudo, de quem realmente se preocupa com o futuro de Passos, será muito diferente do que alardeia esse deputado. Em tempos tão difíceis, é necessário discernimento e coragem para, nas urnas, escolhermos o caminho que conduziremos Passos para um futuro digno e próspero.

GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna