Opinião

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18 de maio de 2023

GILBERTO ALMEIDA

Vencer os desenganos

“Nunca houve uma noite, ou um problema que pudesse derrotar o nascer do sol ou a esperança.” – Bern Williams

Desde os primórdios da política moderna, as campanhas eleitorais sempre foram pautadas por programas e propostas de governo que prometiam mudanças e melhorias significativas. Porém, essa animação e empolgação geralmente desaparecem logo após a eleição dos governantes, e muitas dessas promessas são esquecidas ou simplesmente ignoradas.

Existem diversas razões por trás desse cenário. A maior de todas elas é mesmo a irresponsabilidade de prometer aquilo que sabidamente não é factível, mas que os marqueteiros vendem a imagem de que uma nova maneira de governar do candidato, vai tornar possível aquilo que prometeram.

Outra delas é a necessidade de negociar com outros partidos e alianças políticas para garantir a governabilidade. Isso muitas vezes acaba engessando o cumprimento do programa de governo inicial, montando equipes de governo desajustadas e sem o necessário preparo para exercer a função, fazendo com que algumas propostas sejam colocadas em segundo plano ou mesmo abandonadas.

Além disso, muitos políticos se preocupam mais com a sua própria imagem e com a manutenção do poder do que com a implementação das ideias que os levaram ao cargo. Eles acabam priorizando ações que garantam a sua reeleição ou sua popularidade, mesmo que isso signifique deixar de cumprir promessas de campanha importantes.

Outro fator que contribui para o esquecimento dos programas de governo é a falta de fiscalização e cobrança por parte dos eleitores. Muitas vezes, a população se mobiliza apenas em época de eleições, deixando de acompanhar o desempenho do governante durante o mandato. Esse distanciamento e falta de engajamento permitem que as promessas de campanha sejam esquecidas e as demandas da população sejam ignoradas.

Portanto, é fundamental que todos nós, enquanto cidadãos, façamos nossa parte para não permitir que as propostas e programas de governo sejam esquecidos após as eleições. Devemos acompanhar de perto cada ação dos governantes e cobrar a implementação das promessas de campanha, fiscalizando e participando ativamente da política.

É desolador ver como a política enche o coração de tantas pessoas com desesperança e desalento. São tantos casos de corrupção, escândalos e promessas não cumpridas que é difícil não se sentir desanimado.

O que era para ser o meio de construir e melhorar a vida em sociedade tornou-se um jogo sujo, movido pelo interesse próprio de políticos sem escrúpulos. As palavras vazias e as promessas impossíveis de serem cumpridas apenas contribuem para a sensação de que não há como mudar a situação.

Quando se pensa em tudo o que ficou pelo caminho, nas oportunidades perdidas e no cansaço de lutar por um futuro melhor, é fácil se sentir vencido. Mas é preciso lembrar que nem tudo está perdido.

Mesmo com todos os recursos midiáticos “dourando a pílula”, mesmo com órgãos de imprensa formais ou não e um exército de apoiadores tentando mostrar, no noticiário e nas redes sociais as maravilhas e realizações de um governo, a realidade sobrepõe a todas as maquiagens propostas e as pessoas que precisam de um sistema de saúde eficiente, que caem em buracos de vias públicas dilaceradas, que vêm os serviços públicos de uma forma geral em decadência e o dinheiro público sendo desperdiçado com projetos não prioritários, muitas vezes servindo para conseguir aplausos da parte mercenária da imprensa, tudo isto desperta um movimento de desaprovação e indignação, que não há marketing no mundo que consiga disfarçar.

Ainda há luz no fim do túnel, ainda há pessoas comprometidas com a verdade e a justiça, que lutam por mudanças e não desistem diante das adversidades. É preciso se juntar a elas, somar forças, participar ativamente da vida política e não se calar diante dos descalabros administrativos.

Não podemos deixar que a desesperança tome conta de nós, porque é justamente a esperança que nos faz acreditar que é possível construir um mundo melhor.
É preciso acreditar, lutar e resistir, porque só assim podemos mudar o rumo da história.

PS: Irretocável a coluna da semana passada do ilustre amigo Alberto Mattar. Acostumado com seus magníficos textos de literatura, pude constatar também que ele é craque na política e na luta pela democracia.

GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna