Opinião

Uma democracia sustentável

22 de março de 2025

Foto: Reprodução

A beleza fundamental da democracia está na existência dos contrários convivendo em harmonia e respeito entre os adversários das diversas categorias ideológicas. Fenômeno este, popularmente, visto como a diversidade de atores existentes na arena política como os partidos políticos das mais variadas concepções ou tendências ideológicas: direita com os seus conservadores e a esquerda com os seus progressistas. Outro fator importante do processo democrático é a alternância de governos realizada através do processo eleitoral. Chama-se a este processo de jogo político democrático. Este jogo político acontece em todas as nações democráticas do mundo, claro, cada nação com as suas peculiaridades de convivência com a democracia. É o que explica a redemocratização do Brasil, apesar dos golpistas, completar 40 anos.

Não é tão claro, simples e bonitinho, porque quando se trata do jogo político a teoria na prática é bem outra. Até porque a democracia se define por liberdade a tal ponto, de suportar até partidos ou grupos políticos antidemocracia. Ou seja, se acham com direito de usar a democracia para pregar golpes de Estado.

Para se fazer uma análise política isenta e sem viés ideológico é quase que impossível no Brasil. Isto por se tratar de uma nação com graves e profundos problemas sociais a começar pela concentração de renda numa desproporção absurda da riqueza em poucas mãos, o que leva enormes parcelas da população a viver na pobreza ou com profundas dificuldades existenciais. E democracia com maioria de povo pobre corre riscos constantes. O modelo de estratificação colonial com sua elite gananciosa, obtusa, escravocrata e latifundiária é passado, O Brasil agora é outro em se tratando de economia, pois está sempre entre as dez maiores do mundo. O problema é que no Brasil continua a concepção de que o trabalho é inferior ao capital e, portanto, o trabalhador deve ser mal remunerado. A massa trabalhadora brasileira é condenada a um sistema de perversa política salarial de zero salário e nunca superior a dois salários-mínimos em média por mês. O que confirma que a nossa elite capitalista é uma das mais gananciosas e obtusas do mundo! Isto quer dizer o quê? Que a atual aristocracia é igual a aristocracia colonial.

Diante de uma realidade social de 3º. Mundo convivendo com uma economia de 1º. Mundo levou o economista Edmar Lisboa Bacha, em 1974, a definir o Brasil como “Belíndia”, ou seja, nosso país parece uma mistura da Bélgica com a Índia. A política deletéria impera com a ideologia da elite, ou seja, da classe social dominante porque é dona absoluta dos meios de produção e da maior parcela da renda nacional. Os 10% mais ricos concentram 58% da riqueza nacional. Tal distorção na distribuição de renda tem colocado em xeque a democracia brasileira, sendo a causa principal da alienação política: a manutenção do povo despolitizado e influenciado pela ideologia da classe dominante, a tal ponto, que surgiu uma categoria política chamada “pobre de direita”. Como se sabe a classe dominante brasileira tem como base a ideologia direitista. A análise sobre esse instigante tema encontra-se no livro do doutor em sociologia e escritor Jessé de Souza com o título “Pobre de direita: a vingança dos bastardos”, (Ed. Civilização Brasileira – SP, 224 pág.- 2024). A tese de Souza revela como indivíduos desprivilegiados, e não importa qual etnia se brancos, negros ou pardos “são seduzidos por discursos que prometem reconhecimento e dignidade, mesmo que isso signifique apoiar políticas que perpetuam sua própria opressão”. O pobre de direita se parece como a nova versão do “analfabeto político”. A diferença entre um e outro é que o analfabeto político não se interessa por política, enquanto o pobre de direita se orgulha em adotar uma ideologia que tem como princípio a manutenção do seu próprio “status quo”. Taí.: o nosso Congresso Nacional com maioria absoluta de partidos políticos da direita e da extrema direita, a confirmar a tese. No entanto, nada de positivo se realiza em favor do povo brasileiro. Conclusão: a democracia brasileira é reiteradamente atacada de modo deliberado e perigoso nos tempos atuais.

A extrema direita usa e abusa da democracia para pedir anistia para golpistas. Nunca fizeram manifestação a favor de mais saúde, educação, direitos trabalhistas e melhor distribuição de renda para o povo. Enfim, Bolsonaro e seus aliados só pensam nos próprios umbigos, portanto, “Sem Anistia”

Esdras Azarias de Campos é Professor de História