16 de maio de 2024
Foto: Reprodução
GILBERTO ALMEIDA
“Os homens são tão simples, que quem quer enganar, sempre encontra alguém que se deixa enganar.” – Nicolau Maquiavel
No tempo das lendas, dos causos e das prosas intermináveis nas cadeiras das calçadas, nos bancos das praças ou na “sombra da árvore”, uma das metáforas que mais me marcaram foi a famosa Lenda do Bode na Sala. Pesquisei na Internet e apesar de autoria desconhecida, existem várias versões e selecionei uma mais sintética por limitações de espaço:
“Conta-se que um lavrador vivia em uma pequena e modesta casa, mas perdia a paciência com as reclamações da mulher e filhos com as condições em que viviam, com o desconforto da casa e impacientes com ambiente ruim. Ao pedir conselho ao pároco ele chegou a se espantar com a solução apontada por este: “bote um bode na sala, e volte daqui a uma semana”.
Assim fez, confiando no conselho do velho pároco. Uma semana depois o lavrador retornou e ouviu logo a pergunta do pároco: “e aí, as coisas melhoraram em sua casa?”. De pronto, ele respondeu: “De jeito nenhum, padre. Está muito pior. Todo mundo está chateado com essa situação, é uma sujeira danada, a casa está caótica e fedida. Estamos mais tristes do que antes”. O pároco então deu a sugestão final: “volte para casa, tire o bode da sala e verá o que acontecerá”. Feito isso, o lavrador voltou e retirou o bode da sala. Foi aquele alívio. A família lhe agradeceu efusivamente, se prontificaram a ajudar mais e a não reclamar da situação, e elogiaram sua bondade em solucionar aquele infortúnio.”
A Tática do Bode na Sala consiste em criar uma dificuldade de modo que os outros incômodos sejam considerados pequenos quando essa dificuldade for retirada. Em síntese é criar dificuldade para vender facilidade. Ao comparar a nova situação à anterior gerando um desconforto que será aliviado com a simples medida de em toque de mágica eliminar a dificuldade artificialmente implantada.
Em Passos, vivemos uma administração municipal que está conseguindo até o momento uma boa avaliação, exatamente pela lábia política e midiática, contando com a população pouco politizada e de atitudes simplórias, para avaliar seus políticos. Vídeos que eu considero patéticos e ridículos, certamente agradam boa parte da população, que se distraindo e até rindo das encenações dignas de um bobo da corte, se esquecerá o sofrimento absurdo que tem passado pela desastrosa gestão da Saúde Pública, não se lembrará que a inépcia e incompetência da fiscalização dos contratos tem gerado prejuízos, como o das 47 ruas que viraram 28, por perdas do valor do dinheiro recebido, e recentemente da cidade virar um lixão a céu aberto em plena epidemia de dengue, porque a Prefeitura é benevolente e não ficaliza a empresa terceirizada, deixando tudo “ao Deus dará”.
Para que o patoá “vamos pra cima” não se torne um caricato “vamuprariba”, precisamos acordar para o impacto que a instalação da Heineken vai gerar na Saúde, Educação, Segurança, Habitação, Trânsito e Transportes entre outras, já que a inexistência de qualquer programa significativo de preparação de mão de obra, deve provocar a migração de milhares de pessoas mais capacitadas para Passos, trazendo ainda suas famílias.
Sem nenhum conteúdo oposicionista, devo dizer que é hora de pensar nosso futuro e trabalhar com mais seriedade. Vivemos um momento de grande importância estratégica para alcançarmos o futuro desejado, não cabendo nos contentarmos com as bravatas midiáticas de Sua Excelência o senhor doutor Prefeito. O momento exige planejamento, e deixar de trabalhar como bombeiro, socorrendo problemas depois que o “caldo entornou”.
O simbolismo da pavimentação da Rua Varginha mostra tudo isso claramente: o Prefeito tinha o dinheiro há mais de 3 anos, sempre bom lembrar, porque Sua Excelência parece ter “esquecido” que foi enviado pelo deputado Emidinho Madeira, e não fez a obra mas revirou a rua, deixou manilhas espalhadas no mato, no barro ou na poeira. Agora, próximo das eleições, ele realiza a obra para euforia dos moradores da rua, que tanto sofreram desnecessariamente. Mas o importante era criar um herói.
Sua Excelência para completar a “obra”, faz publicar um pedante vídeo, afrontando seus opositores. Enquanto os moradores da rua Varginha finalmente veem a conclusão da obra como uma vitória, é importante questionar o verdadeiro motivo por trás do atraso e a manipulação política por trás dele. A metáfora do Bode na sala nos ensina que, muitas vezes, as dificuldades são criadas não pela falta de recursos, mas sim pela conveniência política. O “gran finale” pré-eleitoral pode trazer alívio aos moradores, mas não apaga a memória dos anos de sofrimento desnecessário. Que este episódio sirva de alerta para que os cidadãos estejam sempre vigilantes e questionem as verdadeiras intenções por trás das ações dos políticos.
GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna