Zema quer mentir seu caminho até o Planalto. Não vai conseguir.
Pedro Rousseff
Romeu Zema sonha alto. Depois de se vender como “bom gestor”, ensaia um voo rumo ao Palácio do Planalto em 2026, embalado por marqueteiros e por um discurso anticorrupção de conveniência. Mas há um problema: a realidade bate à porta, e ela costuma ser mais forte do que a propaganda. Zema é o governador que esconde R$ 25 bilhões em renúncias fiscais, descumpre promessas de transparência e aumenta privilégios para os de cima enquanto sacrifica os serviços públicos para os de baixo.
Desde 2022, a Secretaria de Fazenda de Minas Gerais mantém sob sigilo a lista das empresas beneficiadas por regimes especiais de tributação — um verdadeiro caixa-preta fiscal, classificado como “ultrassecreto”. O vice-governador e herdeiro político Mateus Simões chegou a prometer a divulgação da lista, dizendo ter “nojo” de sigilo fiscal. Um mês depois, voltou atrás e agora diz que abrir os dados “não seria uma estratégia adequada”, porque prejudicaria a competitividade. Não se trata de estratégia: é covardia e cumplicidade com os interesses do grande capital.
Enquanto isso, a renúncia fiscal prevista para 2026 chega a 21% da receita líquida do Estado. São R$ 25,2 bilhões que poderiam fortalecer a saúde, a educação e o transporte público, mas que continuarão indo para empresas escolhidas a dedo, longe dos olhos da população e da Assembleia Legislativa. É um escândalo silencioso: o dinheiro público sumindo sob uma névoa de tecnicalidades, sem prestação de contas, sem debate democrático.
Zema sabe que esse tipo de política não se sustenta com a luz do dia. Por isso tenta administrar Minas como quem gerencia um condomínio de luxo: escondendo os boletos, terceirizando responsabilidades e culpando o síndico anterior. Só que Minas não é uma empresa. É um estado marcado por desigualdades profundas, onde cada centavo de isenção fiscal pode significar um remédio a menos no posto de saúde, uma creche sem vaga, uma estrada que não recebe manutenção.
Zema quer ser visto como o gestor eficiente que “corta na carne” e “atrai investimentos”. Na prática, corta o osso dos serviços públicos e atrai apenas os velhos interesses: aqueles que não gostam de pagar imposto, mas vivem de incentivos do Estado. É o velho liberalismo à mineira: um discurso contra o Estado feito por quem vive pendurado nele.
A verdade é que Zema não tem projeto de país. Tem projeto de poder. E, como muitos da sua estirpe política, acredita que pode mentir até chegar ao Planalto. Acredita que o povo é bobo, que a imprensa se esquecerá, que a oposição se calará. Mas não vai ser assim. Minas Gerais tem memória, tem história e tem resistência. Não é à toa que aqui nasceu a Inconfidência, aqui marcharam os trabalhadores das greves históricas, aqui se fez e se faz luta.
Zema pode até continuar sonhando com a presidência. Mas, como se sabe, até os hipócritas sonham. A diferença é que, quando acordam, são desmascarados.