15 de maio de 2023
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Na essência da palavra, tenho maravilhosos amigos para todas as horas. De contar nas estrelas, por certo que não. Nos dedos das mãos, com força e coragem afianço que sim.
Na contramão do indesejável, existem os ‘muy amigos’, adeptos da via de mão única, também conhecida por “só vêm a nós, ao nosso reino nada”.
Com ou sem o sigilo profissional da atividade jurídica, os maiores prejuízos financeiros de que fui vítima aconteceram bem próximo, em meio a iguarias, profusões etílicas e despudoradas risadas. Em decorrência, para vilipêndio do orçamento, empréstimos, avais, negócios mal feitos. No comum de picadeiro de circo de baixa qualidade, acabei levando a pior. Perdi muito. Dizia Napoleão – o mesmo da posição incômoda, nada propícia à sorte: “é melhor ter inimigos manifestamente abertos do que amigos às escondidas”.
Por afinidade de compostos, amizade é algo que tem a ver com carinho e afeto. Não se situa nos meandros dos negócios. Dinheiro não entra, ou não deve entrar. Costuma dividir e não somar no campo da amizade. Multiplicar, raríssimas exceções. Aquilo de que muito se conhece: amigo não se compra, não se vende e não se encontra nas prateleiras das boas casas do ramo. Nenhuma transação permeia o sentimento profundo do que seja a amizade, mesmo porque não há cobrança. Puxão de orelha, no particular, é diferente. É benéfico, proveitoso e útil. Essa de que “amigos, amigos; negócios à parte”, faz sentido. Evitar ao máximo é bom.
Na magia da verdade, o amigo é astro que deveria girar e ou descrever em torno de outro. Não é bem assim. É um bem em oposição ao mal, na iminência e sensação de acontecimentos. Na rede social um internauta envia algo sobre o espírito da amizade que ultrapassa a camaradagem. Declina como autor Mateus Ribeiro: “A verdadeira amizade é aquela que o vento não leva e a distância não separa”.
Por indução, até certo ponto magnética, faço por incluir o tempo. Passe o tempo que passar, a amizade verdadeira permanece. E se verdadeira, a trancos e barrancos, por zelo e cuidados, torna-se sólida, inabalável. Para Aristóteles, “um amigo se faz rapidamente, já a amizade é um fruto que amadurece lentamente”. Também disse outras coisas igualmente importantes. Como “é a que subsiste entre aqueles que são bons”. Pode ser. O que é bom de fato deseja o melhor para o outro.
Mas vamos lá. É tão bom encontrar amigo que há muito não se via. Um afago no olhar, um dedo de prosa ainda que não por muito tempo. Como nas circunstâncias: você por aqui? Quanto tempo! Vejo que o amigo está bem. E do outro se ouve: – “Também senti sua falta!”
Pois sim. Estou aqui e acolá. E se estou é porque o sopro da vida e a chama que me acalanta possibilitam e vivificam o instante mágico do encontro. E não só. Demonstram com todas letras que ainda estou vivo para dizer ao amigo: que bom encontrá-lo.
Verdade verdadeira, a vida só passa a ter sentido quando conseguimos entender o sentido mais amplo do verbo viver.
E viver na mais ampla e serena completude envolve outro verbo. Esse verbo, positivamente, nada tem a ver com a classe de palavras ou discurso de qualquer natureza. Mas algo mais valioso, profundo e duradouro. Algo que se assemelhe à amizade segura e verdadeira. Luz que vem do alto para enlevar e nos fazer crer que viver de bem com a vida e com amizade segura e verdadeira, ainda que penemos,vale a pena viver.
PS: Para Assunta da Caixa, originalidade em festa, amiga de verdade. Seu “bem” – de tão bendito – é sublime e relevante em suntuosa bondade.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)