Ícone do site Folhadamanha

Opinião

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Amizade segura e verdadeira

Na essência da palavra, tenho maravilhosos amigos para todas as horas. De contar nas estrelas, por certo que não. Nos dedos das mãos, com força e coragem afianço que sim.
Na contramão do indesejável, existem os ‘muy amigos’, adeptos da via de mão única, também conhecida por “só vêm a nós, ao nosso reino nada”.

Com ou sem o sigilo profissional da atividade jurídica, os maiores prejuízos financeiros de que fui vítima aconteceram bem próximo, em meio a iguarias, profusões etílicas e despudoradas risadas. Em decorrência, para vilipêndio do orçamento, empréstimos, avais, negócios mal feitos. No comum de picadeiro de circo de baixa qualidade, acabei levando a pior. Perdi muito. Dizia Napoleão – o mesmo da posição incômoda, nada propícia à sorte: “é melhor ter inimigos manifestamente abertos do que amigos às escondidas”.

Por afinidade de compostos, amizade é algo que tem a ver com carinho e afeto. Não se situa nos meandros dos negócios. Dinheiro não entra, ou não deve entrar. Costuma dividir e não somar no campo da amizade. Multiplicar, raríssimas exceções. Aquilo de que muito se conhece: amigo não se compra, não se vende e não se encontra nas prateleiras das boas casas do ramo. Nenhuma transação permeia o sentimento profundo do que seja a amizade, mesmo porque não há cobrança. Puxão de orelha, no particular, é diferente. É benéfico, proveitoso e útil. Essa de que “amigos, amigos; negócios à parte”, faz sentido. Evitar ao máximo é bom.

Na magia da verdade, o amigo é astro que deveria girar e ou descrever em torno de outro. Não é bem assim. É um bem em oposição ao mal, na iminência e sensação de acontecimentos. Na rede social um internauta envia algo sobre o espírito da amizade que ultrapassa a camaradagem. Declina como autor Mateus Ribeiro: “A verdadeira amizade é aquela que o vento não leva e a distância não separa”.

Por indução, até certo ponto magnética, faço por incluir o tempo. Passe o tempo que passar, a amizade verdadeira permanece. E se verdadeira, a trancos e barrancos, por zelo e cuidados, torna-se sólida, inabalável. Para Aristóteles, “um amigo se faz rapidamente, já a amizade é um fruto que amadurece lentamente”. Também disse outras coisas igualmente importantes. Como “é a que subsiste entre aqueles que são bons”. Pode ser. O que é bom de fato deseja o melhor para o outro.

Mas vamos lá. É tão bom encontrar amigo que há muito não se via. Um afago no olhar, um dedo de prosa ainda que não por muito tempo. Como nas circunstâncias: você por aqui? Quanto tempo! Vejo que o amigo está bem. E do outro se ouve: – “Também senti sua falta!”

Pois sim. Estou aqui e acolá. E se estou é porque o sopro da vida e a chama que me acalanta possibilitam e vivificam o instante mágico do encontro. E não só. Demonstram com todas letras que ainda estou vivo para dizer ao amigo: que bom encontrá-lo.
Verdade verdadeira, a vida só passa a ter sentido quando conseguimos entender o sentido mais amplo do verbo viver.

E viver na mais ampla e serena completude envolve outro verbo. Esse verbo, positivamente, nada tem a ver com a classe de palavras ou discurso de qualquer natureza. Mas algo mais valioso, profundo e duradouro. Algo que se assemelhe à amizade segura e verdadeira. Luz que vem do alto para enlevar e nos fazer crer que viver de bem com a vida e com amizade segura e verdadeira, ainda que penemos,vale a pena viver.

PS: Para Assunta da Caixa, originalidade em festa, amiga de verdade. Seu “bem” – de tão bendito – é sublime e relevante em suntuosa bondade.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

Sair da versão mobile