Opinião

Opinião

23 de agosto de 2023

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA

Porque somos humanos

Era comum na cidade de Passos, décadas atrás, e também em inúmeras cidades do interior, quando a vida era menos corrida do que é nos dias atuais, um costume que considero salutar: as famílias se reunirem nos fins de tarde sentando-se em compridos bancos de madeira postados à porta das casas, para conversarem, apreciarem o movimento da rua, baterem um papo entre si e com os passantes e, mesmo, com os vizinhos do lado ou do outro lado da rua, que, de igual forma, encontravam-se em seus bancos.

Passado o tempo, este hábito – e os bancos também – desapareceu da cena passense, restando, porém, um remanescente bem no coração da cidade: o banco da loja do Célio da Biju Discos, ao lado da Igreja da Matriz, com seus interessantes personagens e frequentadores. Poderíamos até concluir que este costume, salvo esta exceção, desapareceu, diante da concorrência da vida moderna e pós-moderna, mas não. Ele apenas migrou.

É que a natureza humana sempre encontra um modo de se manifestar, mesmo diante de obstáculos, e, hoje, esse convívio se expressa de outra forma, seja no maior clube social da cidade (que se encontra já no limite de sua capacidade de frequentadores – o CPN, sempre lotado), nos sem-número de bares espalhados pela cidade, nas inúmeras igrejas de diversos credos, ou nas muitas ‘turmas’ de amigos (uma delas já quase centenária, a da ‘Turma da Barrinha’) etc.

São todos lugares de convívio, de compartilhamento das dores, alegrias, angústias e esperanças da alma humana, que nenhuma tecnologia, nem mesmo o celular, cada vez mais onipresente em nossas vidas e no nosso cotidiano, é capaz de substituir. O ser humano é, por natureza, um ser gregário, sociável, salvo exceções, que confirmam a regra.

IA

Segundo Miguel Nicolelis, cientista e médico brasileiro, respeitado na comunidade científica internacional pelo seu trabalho na área da neurociência, em recente entrevista, a AI (sigla em inglês para designar a inteligência artificial), não é inteligência e nem é artificial pois, resumidamente, a tecnologia da informática, com seus computadores e demais dispositivos de processamento de dados, utiliza-se do sistema digital, binário, para o processamento das informações. Já o cérebro humano, funciona de forma analógica.

Conforme Nicolelis, os computadores e máquinas deles derivadas jamais poderão igualar (emular), enquanto sistemas digitais, as emoções, a criatividade, o senso de beleza… enfim, reproduzir a alma humana, pois tudo isso são características de sistemas analógicos, inerentes, unicamente, até o momento, ao gênero humano. Para o cientista, a verdadeira inteligência é a de quem está por trás da programação de tais máquinas.

Solidariedade como raça humana – “Por quem os sinos dobram”

Em tempos idos, fazia parte da vida cotidiana dos moradores das cidades o badalar dos sinos das igrejas, anunciando eventos religiosos, bem como o falecimento de alguém. Os versos do poeta John Donne, imortalizados e consagrados até em filme hollywoodiano ganhador de Oscar (1943), traduzem bem a nossa natureza gregária e social: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. (John Donne, poeta inglês, 1572-1631)
“Não é bom que o homem esteja só”! (Gn. 2.18)
Saúde e paz a todos!