15 de julho de 2025
J. R. Guzzo
O consórcio Lula-STF, a esquerda e as classes que habitam o território não mapeado que vai dos bilionários socialistas aos pensionistas da Lei Rouanet estão em transe patriótico. É de onde menos se poderia esperar algo parecido, pois a ideia de “pátria”, ali, é uma quase prova de direitismo, quando não de bolsonarismo explícito. Mas o presidente Donald Trump assinou uma carta descendo a lenha na farsa judicial dos processos ora em curso contra Jair Bolsonaro, hoje um escândalo de categoria mundial, e na parceria entre o governo e o STF para linchar inimigos políticos. Pronto: Lula, a esquerda e seu sistema de sustentação saíram gritando que a pátria amada foi ultrajada, e que lutaremos sem temor em defesa da soberania do Brasil. Rebrilha a glória. Fulge a vitória.
Tudo isso tem a sinceridade do Coringa mostrando a flor que solta ácido da sua lapela – uma coisa tão falsificada que corre o risco de não colar, mesmo neste Brasilzão de ignorância maciça. De um lado, há a vasta desconfiança por parte da população de que, entre os Estados Unidos e o Brasil, que ninguém nos ouça, os Estados Unidos provavelmente têm razão. País por país, governo por governo, Lula por Trump, em quem você acha que o povão acredita mais? De outro lado, há a velha história de sempre: país que precisa dizer que é soberano obviamente não é soberano; se fosse, não diria nada. É como o político que proclama em público: “Eu sou honesto”. É mesmo? Se fosse, não precisaria ficar falando.
A realidade dos fatos, em matéria de patriotismo, mostra exatamente o contrário do que a esquerda pretende parecer. Há não muito tempo, uma de suas artistas militantes, filha de um compositor reverenciado, pisoteou a bandeira nacional em pleno palco, num de seus shows. Pendurar a bandeira na janela ou sair com ela na rua é um ato denunciado como “fascista” por altos magistrados, professores da universidade e jornalistas oficiais. O ex-presidente do Banco Central quase se viu metido num caso judicial porque foi votar de camisa amarela; a “justiça eleitoral” do consórcio viu nisso uma suspeita de crime. Todos eles, agora, se declaram apaixonados pelo Brasil varonil de céu de anil e glórias mil, porque tiveram de ouvir uns desaforos de Trump. “Tenha dó”, diria o ministro Alexandre de Moraes.
Para piorar tudo, o Brasil tem uma causa juridicamente forte, mas muito ruim perante os jurados. Nenhum país, é claro, pode levar o esporro que o Brasil levou dos Estados Unidos e dizer “tudo bem, desculpa aí alguma coisa”. É obrigado a dizer que o país não recebe ordens de ninguém, e nem pode mudar o que está fazendo porque recebeu uma carta mandando que mude. Mas o que o Brasil está fazendo, por meio do regime Lula-STF, é uma coisa horrível – e não é só Donald Trump que acha isso. Nenhum tribunal sério do mundo democrático aceitaria uma denúncia tão inepta como a que a PGR apresentou contra o “golpe” de Jair Bolsonaro – nem consideraria como “prova” a montoeira de alegações da polícia e da acusação. Quanto ao juiz-chefe dessa comédia, o ministro Moraes, é melhor nem falar. Quanto mais o mundo civilizado fica sabendo as coisas que Moraes faz no processo, mais ele aparece como uma aberração de ditadura subdesenvolvida.
O governo não pode engolir o que Trump lhe disse, nem a taxação de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, não pode se comportar como uma ditadura primitiva e esperar apoio e admiração do mundo livre. Na última vez em que se viu numa situação como essa, quando os mesmos Estados Unidos condenaram o regime militar por causa das torturas praticadas pela polícia política, o Brasil conseguiu se safar. Reagiu indignado, como Lula em defesa da “nossa soberania”, e disse que jamais aceitaria “pressões” – mas o fato é que, mais adiante, os centros de repressão foram contidos, o contencioso se desfez e as relações voltaram à normalidade.
Desta vez está mais complicado. A discórdia não está com cara de se desfazer – pelo contrário, o STF só sinaliza com mais extremismo, e o lulismo está cada vez mais fechado com o STF. Tanto quanto isso, o governo Lula não quer a normalidade com os Estados Unidos – gostaria, se conseguisse, de romper relações, como sonha romper relações com Israel e tornar-se mais um Irã ou Venezuela da vida. Este é um governo no qual a extrema esquerda manda mais do que jamais mandou. O presidente e o seu entorno têm toda a irresponsabilidade e toda a falta de escrúpulos que são necessários para se executar um projeto de destruição como esse. A esperança é que, como em outros dos seus melhores planos, não consigam o que querem.
J. R. Guzzo é jornalista