Meio Ambiente

Meio Ambiente

13 de abril de 2023

Queimadas aumentam prematuridade

Prematuridade, baixo peso ao nascer e malformações. Ao menos uma das causas desses problemas no Brasil é completamente alheia ao controle das gestantes e sua temporada está se aproximando: as queimadas. Três estudos da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas (FGV EPPG) mostram essa relação.

Um deles aponta que, na Região Sudeste, a exposição à fumaça dos incêndios nas matas durante o primeiro trimestre da gravidez está relacionada a um aumento de 31% na probabilidade de o bebê nascer prematuro. Na Região Norte, esse incremento é de 5%.

Pesquisa

O estudo cruzou dados dos mais de 190 mil nascimentos prematuros no País, entre 2001 e 2018, utilizando como base o DataSUS, e informações sobre queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram considerados apenas os nascimentos de bebês até a trigésima sétima semana de gestação, e de mães entre 18 e 45 anos. A exposição às queimadas, durante o mesmo período da gestação, também está ligada ao baixo peso do bebê ao nascer.

De acordo com outra pesquisa, também da FGV, publicada na revista científica The Lancet, o aumento de 100 focos de queimadas esteve associado com 18,55% de chance a mais de uma criança nascer com peso abaixo do esperado na Região Sul do Brasil. No Centro-Oeste a correlação foi de 1% a mais. O estudo teve a participação de pesquisadores do Canadá, Dinamarca e Estados Unidos.

Temporada

A temporada das queimadas no Brasil vai de junho a novembro. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nessa época são registradas as maiores quantidades de focos de incêndios florestais. A Amazônia e o Cerrado são os biomas mais atingidos, mas não os únicos.

Uma das hipóteses para os resultados mais preocupantes estarem longe do chamado arco do fogo, nos Estados do Norte e Centro-Oeste, é que “as gestantes da Região Norte, por estarem mais expostas ao longo da vida, podem desenvolver algum tipo de resistência quando comparadas às do Sul e Sudeste”, diz Weeberb Réquia, professor da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas (FGV EPPG), que coordenou as pesquisas.

Natureza do material

Outra hipótese recai sobre a natureza do material queimado. “Há pesquisas que mostram que a queima da cana, por exemplo, é mais prejudicial à saúde do que a queima da matéria orgânica da floresta”, afirma o pesquisador. Os resultados encontrados por Réquia estão alinhados com pesquisas internacionais, muito mais numerosas em locais como os Estados Unidos, a Europa e a China. “Hoje, já há uma certeza em relação aos efeitos da poluição do ar e das queimadas para a saúde vindos de diversos estudos”, afirma o professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva, referência nas pesquisas da área.