Meio Ambiente

Meio Ambiente

6 de julho de 2023

Fuligem importada

Fuligem proveniente da queima de combustíveis fósseis e florestas na África está contribuindo para o desequilíbrio climático na Amazônia brasileira. A conclusão é de um novo estudo feito por cientistas brasileiros e alemães que monitoram aerossóis vindos do outro lado do Oceano Atlântico, revelando como e em que quantidade eles afetam a atmosfera amazônica. O trabalho foi publicado na Communications Earth & Environment, do grupo Nature.

Efeitos

O estudo revela que o volume de fuligem transportado está longe de ser desprezível e contribui significativamente para a poluição medida no bioma: de 30%, na estação seca, até 60%, no período de chuvas. A descoberta destaca a importância de entender a extensão e os efeitos da queima de florestas para o clima e a saúde em todo o planeta.

Modelo

Os pesquisadores destacam que, até hoje, tal poluição não é levada em conta nos modelos climáticos usados em estudos sobre a Amazônia. Ou seja, o problema pode ser ainda pior do que o estimado. “Os dados novos que conseguimos devem ser usados para aprimorar os modelos globais, que reproduzem as emissões, mas tendem a subestimar o que vem da África”, explicou a pesquisadora brasileira Bruna Holanda, do Instituto Max Plank, na Alemanha, principal autora do trabalho. “Com isso, teremos um quadro melhor sobre o quanto essa situação afeta o clima na Amazônia, porque essas partículas absorvem radiação, aquecem a atmosfera e são um importante componente do aquecimento global.”

Atlântico

O transporte e a sazonalidade da fumaça da África através do Atlântico eram conhecidos com base em medidas de satélite e de avião. Havia, porém, dificuldade de distingui-la da poluição local e determinar sua proporção. A fuligem (ou carvão negro) emitida durante a combustão que sobe para a atmosfera é uma das consequências mais preocupantes das queimadas para o meio ambiente. Analisando as pequenas partículas dispersas no ar, os pesquisadores conseguiram perceber diferenças significativas entre os materiais produzidos em cada continente por conta do tamanho, capacidade de absorção de calor e de suas características físicas e químicas.

Previsões

Professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo é um dos que assinam o trabalho. “O aumento da temperatura previsto nos próximos anos para a África Central e para a África Subsaariana, a principal fonte dessas emissões, e a redução das chuvas que já está ocorrendo naquela região muito provavelmente tenderão a se agravar”, diz.