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Histórias paralelas que se cruzam

22 de janeiro de 2024

Kim Basinger está no elenco do roteirista Guillermo Arriaga./ Foto: Divulgação.

CINE CLUBE

Vidas que se Cruzam” (2008), atração desta terça-feira, 23, no Cine Clube Pipoca e Bala Pipper, em Passos, é o primeiro longa-metragem dirigido pelo roteirista mexicano Guillermo Arriaga, conhecido pelas parcerias com o cineasta Alejandro González Iñarritu. Os roteiros de “Amores Brutos” (2000), “21 Gramas” (2003) e “Babel” (2006) são de Arriaga, que também assina esta sua primeira incursão atrás das câmeras. Se Iñarritu e Arriaga não tivessem brigado e cortado relações, muito provavelmente este filme traria a assinatura do primeiro na direção. Isso porque o filme não foge nada do universo conhecido da antiga dupla.

Como é de praxe nos escritos de Guillermo Arriaga, o filme conta com tramas múltiplas e com narrativa não-linear. Quem já conhece os trabalhos anteriores de Guillermo Arriaga não se surpreenderá com a forma com que o roteirista tem para conceber suas tramas. Esse conhecimento prévio do estilo do profissional acaba, por fim, minando algumas pretensas surpresas do roteiro, que são facilmente antecipadas pelo espectador mais atento.

Isso não faz com que a experiência seja menos interessante. Mas resta a curiosidade em descobrir se ele é capaz de contar uma história com começo, meio e fim lineares. Seria um bom desafio. Até porque, no fim das contas, o que segura “Vidas que se Cruzam” não é o mistério de como as histórias se ligam. O que prende o espectador são os personagens e seus dramas. Nesse quesito, o longa-metragem tem qualidades que conseguem engajar o público. Com boas performances de Charlize Theron, Kim Basinger e Joaquim de Almeida, e com os jovens talentos de J.D. Pardo e Jennifer Lawrence, é possível sentir-se interessado pelo destino daquelas figuras.

Se Guillermo Arriaga resolveu não se aventurar no roteiro, escrevendo o feijão com arroz que já domina, na direção o mexicano também não foge muito do estilo de seus filmes anteriores. Mesmo que não assine a direção de “21 Gramas” ou “Babel”, é visível que sua contribuição era bem maior que apenas assinar a história. Dizem até que a briga entre Iñarritu e Arriaga deu-se pela discussão de autoria de 21 Gramas. Arriaga queria coassinar o filme e Alejandro não teria permitido. Dito isso, não é de se estranhar que este novo trabalho lembre tanto as colaborações anteriores entre os dois profissionais.

“Vidas que se Cruzam” é interessante enquanto dura, mas não deixa uma maior impressão no espectador depois que as luzes se acendem. É bem-feito, tem boas atuações e um roteiro bem encaixado. Mas segue tão fielmente uma fórmula tão batida – que já havia cansado em Babel – que acaba perdendo pontos pela falta de novidade. Talvez tenha sido realizado assim para fins de aprendizado.

Na certa, Arriaga preferiu partir de um lugar de conforto para assinar seu primeiro longa-metragem como diretor para só depois ousar. É o que se espera. Talento o roteirista já mostrou ter. Basta se livrar das amarras de suas fórmulas que melhores coisas podem surgir. (Rodrigo de Oliveira / Papo de Cinema).

VIDAS QUE SE CRUZAM (The Burning Plain) EUA / México / Argentina, 2008. Gênero: Policial / Drama / Romance. Duração: 107 minutos. Direção: Guillermo Arriaga. Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger, Jennifer Lawrence. A ser exibido no Cine Clube Pipoca & Bala Pipper, no anfiteatro da Casa da Cultura, em Passos, terça-feira, 23 de janeiro.