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As memórias de Barbra Streisand

21 de novembro de 2023

Streisand fala sobre seu novo livro de memórias, explorando os filmes e os homens de sua vida./ Foto: Reprodução.

LITERATURA

Talvez sejam os netos, talvez sejam os 81 anos de idade, mas o fato é que Barbra Streisand está aberta a coisas novas. Compartilhar, por exemplo. Pelo menos compartilhar suas próprias histórias. Está chegando My Name Is Barbra, seu primeiro livro de memórias. São 970 páginas repletas de dúvidas, raiva, ardor, mágoa, orgulho, persuasão, glória e iídiche. Não sei se algum artista conseguiu compartilhar mais do que ela.

E, ainda assim, no mês passado, depois do almoço na sua casa em Malibu, Califórnia, Streisand compartilhou mais uma coisa, um tesouro que ela guarda quase tanto quanto os detalhes de sua vida. É uma sobremesa. Seu livro traz muita coisa – bastidores de filmes e especiais de televisão, confrontos e vínculos com colaboradores, um capítulo inteiro sobre Don Johnson (é curto) e outro chamado “Política”, sua inabalável preferência por grandes misturas do masculino e do feminino. Mas a comida é tão onipresente que quase se apresenta como o amor da vida de Streisand, em especial o sorvete.

Então, quando chega a hora da sobremesa na casa de Streisand, apesar de qualquer escolha que lhe ofereçam, a verdade é que só existe uma opção. É o sorvete de café brasileiro da McConnell. Ela escreve sobre esse sabor com um zelo orgástico que talvez só se compare a seu entusiasmo por Modigliani e Sondheim.

Quanto Streisand adora o sorvete de café brasileiro? No livro, ela está no meio de uma história triste sobre um jantar com seu amigo Marlon Brando na casa de Quincy Jones, quando interrompe a narrativa para se entusiasmar com o sabor e relembrar tudo que ela fez para conseguir um pouco do sorvete. Então, é claro que eu queria a mesma sobremesa que ela. “Okaaayyyy”, disse Streisand. Ela lançou um olhar profundo e cheio de significado para sua assistente de longa data, Renata Buser.

O livro de memórias de Streisand abrange sua infância na classe trabalhadora do Brooklyn da década de 1940, sua grande chance na Broadway em Funny Girl (1964), uma carreira no cinema que fez dela a maior atriz da década de 1970, seus álbuns populares e seus especiais de TV líderes audiência, seus prêmios e críticas, seus problemas, terrores e paixões, suas amigas próximas, os homens que ela amou e, sim, as comidas que ela mais adora. My Name Is Barbra é explicativo, reflexivo e esclarecedor. Também é engraçado e surpreendente. A mulher que escreveu está em contato consigo mesma, adora ser ela mesma. Mas não gostou do que há de ostensivo na escrita de memórias. “Fiz terapia muitos, muitos anos atrás, tentando entender essas coisas”, ela me disse. “E fiquei entediada. Realmente não queria reviver minha vida”.

Escrever o livro forçou Streisand não apenas a revivê-la, mas a fazer uma síntese entre presente e passado. Por exemplo: ela muitas vezes reconhece como perder o pai ainda jovem e viver décadas com a mãe – que sempre via a maternidade como um copo meio vazio – a preparou para uma jornada em busca de aprovação.

Essas 970 páginas também fazem do livro um halter de academia. Streisand não gosta do peso. “Eu queria dois volumes”, disse ela. “Quem quer segurar um livro pesado como esse nas mãos?”