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‘Agronejo’ é a nova onda na música

8 de agosto de 2023

A cantora Ana Castela é um dos nomes mais populares do chamado agronejo, que combina sertanejo com outros ritmos e tendências./ Foto: Divulgação.

MÚSICA

Quem se acostumou com a “sofrência” ou o amor melódico das últimas músicas sertanejas e sucesso pode se espantar um pouco ao presenciar o fenômeno que tem dominado as paradas musicais. O “agronejo” une modão rural de raiz com batidas urbanas antenadas, sem pudor ao ostentar tanto a riqueza que vem do agronegócio do Brasil quanto em deixar o romantismo de lado e abraçar o duplo sentido de termos do universo agropecuário, como roçar, montar e cavalgar.

A nova geração do estilo tem como principal figura a cantora Ana Castela, 19 anos, nascida em Amambai, no Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com o Paraguai. A artista atualmente mais escutada do país, segundo dados do YouTube e do Spotify, também é destaque da trilha sonora e de cenas da novela “Terra e Paixão”, em um claro esforço da TV Globo de se conectar com este universo.

O “agronejo” começou a dar as caras de maneira mais incisiva no Brasil no segundo semestre de 2021, a partir do estouro da música ‘Os Menino da Pecuária’, da dupla paranaense Léo e Raphael, que já em 2019 cantavam que o “agro é top”. Na canção, os artistas comparam as riquezas exibidas por outros estilos musicais, como carros importados, à cabeça de gado: quantas Ferraris equivalem a uma propriedade que produz toneladas de milho ou soja?

Os “agroboys” preferem uma Dodge Ram ou uma Hilux a um carro da marca italiana, pois é do alto da carroceria que cantam em bom som que “de ponta a ponta, o Brasil tem boiadeiro movimentado a parada”. O “P” do PIB brasileiro não se traduz literalmente na pecuária, como cantam, mas o agronegócio foi de fato responsável, em 2022, por quase 25% da produção nacional.

A ostentação é marca do “agronejo”: sai a sofrência, entra a autovalorização. “A gente percebe que faz parte falar sobre a quantidade de cabeça de gado que tem, qual a caminhonete que o cara anda. São itens ligados ao agro de uma forma mais ostentativa que eu vejo como uma autoafirmação, mas de uma forma superficial”, destaca Marcus Vinícius de Deus Bernardes, que acompanha os movimentos da cena musical há 16 anos à frente do ‘Blognejo’, um dos maiores portais sobre o sertanejo nacional

Ele considera que, ainda que o setor agropecuário sempre tenha sido forte no Brasil, foi nos últimos anos, quando o agro ganhou ainda mais força mais política no país, que a “galera do campo” ficou mais à vontade para falar de si mesma.

No epicentro do fenômeno do “agronejo” está o ‘Agroplay’, escritório em Londrina, no Paraná, que gerencia boa parte dos artistas do gênero, como Luan Pereira, Us Agroboy, Julya e Maryana, Francisco, DJ Chris no Beat e Ana Castela. O sucesso começou nas redes sociais e se ampara na renovação das músicas, com novos hits sempre no forno. “O momento que a música vive é das plataformas. O consumo está muito rápido e nós precisamos ser também”, comenta Ana Castela.