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A ascensão da tirania

26 de abril de 2024

NIKOLAS FERREIRA

As arbitrariedades no Brasil estão mundialmente expostas. Isto está longe de ser algo positivo, porque tais arbitrariedades nem deveriam acontecer, mas é sempre bom reforçar que tudo isso não teve início agora. Não esquecemos a ascensão da tirania.

Os problemas com o que pode ou não ser dito nas redes sociais, de acordo somente com a opinião de um grupo específico, não são de hoje. Diferente da liberdade que hoje é defendida por Elon Musk e pelo X, lembro-me de que ainda em 2017, quando as páginas conservadoras de fato começaram a crescer exponencialmente, várias contas com milhares de seguidores foram excluídas, uma delas a que eu administrava. Não havia nenhuma explicação plausível, nem houve a possibilidade de recuperá-las. O que veio a acontecer depois disso foi uma mera escalada cada vez maior da censura, sem nenhuma coerência para ao menos tentar justificar o injustificável.

No fim de 2022, após as eleições nas quais o povo me deu a honra de ser o deputado mais votado do Brasil e da história de Minas Gerais, minhas contas nas redes sociais foram suspensas por ordem do TSE. O motivo? Nem eu, nem meus advogados sabem, já que incrivelmente não tivemos acesso ao processo contra mim mesmo.

Na época, a esquerda tentou levantar a narrativa de que seria por ataque às urnas, mas se esqueceram do principal: falar a verdade. Primeiro que o que eu de fato havia feito era pedir publicamente para que o tribunal responsável investigasse as denúncias que estavam sendo feitas. Não há sentido em classificar como crime um pedido de apuração a quem tem competência para isso. E se porventura eu tivesse duvidado mesmo do sistema eleitoral? Ora, nada aconteceu quando o hoje ministro do Supremo Flávio Dino não só questionou as urnas, como defendeu o voto impresso.

Mesmo após as expressivas votações que obtive nos dois pleitos que disputei, a censura contra mim seguia. Em 2023 minhas redes continuaram suspensas e Alexandre de Moraes multou o Telegram em R$ 1,2 milhão por não cumprir a decisão de bloqueio da minha conta, e ignorou o pedido de reconsideração que a própria plataforma havia feito. Nos últimos dois anos, eu já afirmava que no Brasil era proibido discordar, o que é extremamente perigoso.

Não defendi nenhuma medida antidemocrática, não recebi ditadores como Nicolás Maduro ou Miguel Díaz-Canel e muito menos financiei tiranos com dinheiro da população. Tampouco defendi movimentos verdadeiramente terroristas como o MST, nem os vândalos de esquerda que invadiram a Câmara dos Deputados e prédios de ministérios, e que tentaram ocupar o STF em anos anteriores. Tudo isso de fato atenta contra a democracia, mas, infelizmente, acontece hoje com muita naturalidade e sob os olhares de quem diz defender o Estado Democrático de Direito, mas que permanece estático justo nos momentos em que deveria se levantar.

Já no início deste mês, o Supremo Tribunal Federal negou o meu recurso contra uma multa no valor de R$ 30.000 por parte do Tribunal Superior Eleitoral, por supostamente divulgar informações falsas sobre Lula. Sim, o mesmo que fala mentiras dia sim e dia também. O mais cômico disso tudo é que no material em questão eu havia divulgado uma matéria da Veja escrita por um jornalista. Algo aconteceu com a revista? Absolutamente nada bem – e não defendo nenhuma retaliação a eles por isso. Ninguém quis a extinção do veículo de imprensa (como fizeram com o Terça Livre), nem houve perseguição ao escritor, que hoje bajula o “desgoverno do amor”. Algo muito diferente do que aconteceu com Rodrigo Constantino, Paulo Figueiredo e Allan dos Santos, por exemplo.

Nunca faltam exemplos que contribuem para reforçar o momento de insegurança jurídica que vivemos: desde as inúmeras contradições, passando por julgamentos desproporcionais e sem individualização de penas, até as perseguições direcionadas a um só lado e que atingem até mesmo os juízes que não se curvaram aos autocratas, conforme aconteceu com Ludmila Lins Grilo. A intenção não é acabar com uma suposta ameaça à democracia ou com o discurso de ódio, mas sim suprimir a liberdade de expressão e o discurso que somente eles odeiam.

Enquanto tudo isso acontece, a turma da “prudência e sofisticação” cria interpretações e se incomoda mais com o meu discurso sobre falta de testosterona do que o autoritarismo daqueles que se acham deuses na Terra para decidir o que pode ou o que não pode de acordo com o que eles próprios pensam. Incrível como minha fala se confirmou poucos minutos depois e mostrou como a covardia se apossou daqueles que dizem, em vão, ser a salvação para um Brasil cada vez mais polarizado. A única coisa que conseguirão é serem lembrados (ou não) por não terem feito absolutamente nada.

NIKOLAS FERREIRA, 26, é deputado federal por Minas Gerais. Foi vereador por Belo Horizonte e graduado em Direito pela PUC-MG