23 de novembro de 2024
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ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS
A evolução política do Brasil, pós ditadura 1964-1985, entrou em nova fase de democratização com a eleição indireta de um presidente civil, Tancredo Neves, sucedido por José Sarney. Eleição direta só veio acontecer em 1989, com a vitória de Fernando Collor de Mello. O mais longo período democrático da nossa história, pois estamos para completar 40 anos de plena democracia. No entanto, o perigo do golpismo permaneceu como uma tenebrosa sombra a ameaçar a democracia. E retornou com muita força durante o recente governo Bolsonaro. Contudo e apesar das ameaças golpistas em 2022 realizamos a nona eleição para presidente da República. Pela sequência de mandatos os seguintes presidentes eleitos: Fernando Collor, cassado sucedido pelo vice, Itamar Franco; Fernando Henrique Cardoso dois mandatos; Lula dois mandatos seguidos; Dilma Rousseff, cassada por um golpe parlamentar no segundo mandato e sucedida por Michel Temer; Bolsonaro, um mandato; Lula atual terceiro mandato.
Podemos notar pela sequência dos presidentes eleitos e seus respectivos vice-presidentes, que o confronto ideológico entre direita e esquerda acontecia somente nas campanhas eleitorais, uma vez que os eleitos das esquerdas, por exemplo, governaram respeitando a Constituição, como se sabe, baseada nos princípios conservadores e capitalistas com algumas ressalvas sociais democráticas. Veja bem, dentre os políticos que estiveram na presidência nesse período, tivemos três presidentes originários das esquerdas brasileiras, a saber, o FHC, Lula e Dilma Rousseff. E nenhum deles, o FHC, Lula ou a Dilma governaram com propostas esquerdistas, por sinal, foram até mais competentes que os presidentes direitistas, na condução do sistema patrimonialista do capitalismo brasileiro! Além disso, conviveram com um Congresso Nacional sempre hostil, de maioria de conservadores direitistas fazendo de tudo para boicotar os projetos sociais desses presidentes, mesmo quando é para melhoria do país. No entanto, a democracia brasileira tem se mostrado resistente com sobrevida, mesmo durante o governo Bolsonaro ameaçando golpes. O qual golpe só não aconteceu devido a firmeza do STF e das Forças Armadas em não compactuar com o presidente golpista. Esse risco golpista não encerrou com a derrota de Bolsonaro.
Afinal, a democracia brasileira está segura? Cabe aqui uma análise política, social e cultural sobre o povo brasileiro para esclarecer o que de fato fortalece uma democracia. O que garante a democracia é uma somatória de fatores políticos, culturais e econômicos-sociais. Sociais quando existe uma consonância entre um povo lúcido e uma elite social-econômica progressista. E no Brasil estamos a anos luz distante da sinergia entre povo e elite visando progresso social. A elite brasileira não faz nenhuma questão de democracia, até porque não precisa dela para manutenção de seus poderes, privilégios e concentração de riquezas, aliás se sente mais segura com ditadura. Portanto, temos uma das elites mais perversas do mundo. O povo para o qual a democracia existe, sofre de uma deformação lastimável resultado do fator cultural herdado do passado colonial e monárquico em ser tutelado pela ideologia dominante da elite e imposta pela aristocracia agrária! A única força política a se insurgir contra as injustiças sociais no país, tradicionalmente, são as esquerdas. No entanto, as esquerdas, em geral, vêm perdendo fôlego de mobilização popular com nítida acomodação nos sucessivos governos do PT, abandonando de vez sua práxis tradicional por mudanças estruturais e conjunturais da sociedade brasileira. Tal processo abriu uma extensa e larga avenida para a extrema direita avançar por aqui, a exemplo da internacional que vem assombrando o mundo com suas tendências de fundamentalismo religioso mesclado com neofascismo. Enfim, a nossa evolução política nos trouxe a este cenário de incertezas. E existe apenas uma tênue luz no fim do túnel!
ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História.