28 de junho de 2023
WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA
“Não há nada tão ruim que não possa piorar” (máxima da Lei de Murphy)
Com certeza, todos já experimentamos, em algum momento de nossas vidas, a ação e os efeitos desta tenebrosa lei, provavelmente naquela conjuntura em que tudo já está muito ruim e, aí, você pensa que nada de pior pode acontecer… e acontece.
Ninguém tem controle de todas as variáveis de seu próprio destino. Arriscaria até a dizer que não temos controle sobre quase nada, por mais seguros que sejamos ou estejamos. A qualquer momento, algo totalmente inesperado pode nos surpreender. Vejam só o caso do atual conflito entre Rússia e Ucrânia. Quem diria que a tropa de aluguel (Grupo Wagner) contratada pela Rússia para lutar contra os ucranianos iria se amotinar e ameaçar invadir Moscou? A ‘casa quase caiu’ para o Putin há poucos dias. Se, sem provocação, o inusitado já acontece, ainda mais quando, de alguma forma, cooperamos para tal.
Conspirando contra nós mesmos – A queda
Lembro-me de personagem que, altas horas da noite, chegando de viagem à sua residência, no segundo andar de um prédio, em noite chuvosa, passa, antes, por um carrinho de cachorro-quente e compra um sanduiche para comer em casa. Após comer a pequena refeição, resolve atirar os restos e a embalagem na lixeira externa do edifício, que ficava na rua. Dirige-se, então, à sacada de seu apartamento, piso de granito liso, molhado pela chuva fina que caía, e lança o pacote de lixo em direção à lixeira.
No balanço do movimento, escorrega no piso molhado, desequilibra-se no parapeito e cai dois andares abaixo, em direção ao contêiner de lixo (sorte não ter caído dentro!). Acorda algum tempo depois, corpo estirado na calçada, rodeado por socorristas do Samu e pelos vizinhos. Ainda atordoado, sem se dar muita conta do que estava ocorrendo, sente a ausência de um de seus braços.
É que, na queda, ao bater na cerca de proteção do prédio, este membro ficou praticamente separado de seu corpo, preso apenas pelos ligamentos. Sobreviveu. Não perdeu o braço, mas teve que usar uma estrutura de metal para sustentá-lo, cheia de hastes e de pinos que o atravessavam, por um bom tempo, até a sua recuperação.
Conspirando contra nós mesmos – A implosão
Fato recente, a tragédia do minissubmarino Titan. Projetado para submergir até à profundidade de 1,3 mil metros, desceu a 4 mil metros para visita turística ao naufragado Titanic (semelhança até no nome). Levava a bordo dois tripulantes e três passageiros.
É a famosa “tragédia anunciada”, resultando na implosão do submergível e morte de todos a bordo. Advertências não faltaram, inclusive de ex-diretor da empresa proprietária do submarino, demitido justamente por alertar para tal perigo na sua utilização fora do limite para o qual fora projetado.
“Eu era feliz e não sabia”
Quem já não disse essa frase, quem já não viveu uma situação, ou encontrava-se em uma condição, em que se julgava insatisfeito, infeliz e, por vontade própria ou necessidade, buscando se livrar dela, meteu-se em outra pior? Depois, muitas vezes, bate o arrependimento. Mas aí já é tarde e quase nunca é possível, ao menos, voltar ao estado anterior. Isso ocorre muito em relacionamentos amorosos rompidos, na troca de parceiros, em separação de casais, na vida profissional, em quase todas os aspectos e circunstâncias da vida e, até, na política.
Nesta sociedade imediatista em que nos tornamos e vivemos, em que tudo se torna objeto de consumo rápido e descartável, necessitamos investir e trabalhar mais nas coisas ordinárias do nosso cotidiano, nos nossos relacionamentos e nas coisas que nos apresentam obstáculos, antes de as abandonarmos aos primeiros sinais de dificuldade e partirmos para outra opção aparentemente melhor, como resposta aos nossos problemas, sem exaurirmos, antes, as possibilidades de solução.
Uma vida melhor e mais justa para nós e para todos não nos chega gratuitamente. É uma construção pessoal e coletiva, que demanda tempo (a vida toda), compromisso com princípios éticos e com o outro, em trabalho árduo, diuturno e incessante.
Soluções fáceis e mirabolantes não existem – e, se adotadas, com certeza, vão atrair as fatalidades da Lei de Murphy (sobre você e sobre outros). Portanto, “…não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos”.
Saúde e paz a todos!
WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA (@washingtontomedesousa), bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna