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Vinho bom é vinho caro?

28 de junho de 2023

Inverno torna a bebida mais atrativa para diferentes ocasiões. Conheça principais tipos, o que torna alguns rótulos tão exclusivos e veja como selecionar boas garrafas por menos de R$ 100./ Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil.

Quando a temperatura cai, automaticamente o clima fica propício para a degustação de um bom vinho. Nas prateleiras de supermercados, lojas especializadas e empórios, as opções são diversas e os preços também.

Ao redor do mundo, existem garrafas de vinho caríssimas. Em 2018, um leilão sediado em Nova York consagrou o vinho Romanée-Conti 1945 como o mais caro do mundo até então: ele foi vendido pela “pechincha” de U$ 558 mil, o equivalente a R$ 2,6 milhões.

Mas a boa notícia é que existem opções de qualidade e bem mais baratas, inclusive alternativas brasileiras.

“O brasileiro precisa quebrar o paradigma que o Brasil não faz vinho bom. O Brasil, hoje, faz vinho de alta qualidade, o vinho brasileiro está ganhando prêmios internacionais nos concursos mais prestigiados do mundo inteiro”, afirma o empresário Maurício Orlov, da Arcano Vinícola, localizada em Franca (SP).

Nesta reportagem, a jornalista Bárbara Marques, do G1 Ribeirão Preto e Franca, desmistifica algumas ideias sobre vinhos e dá dicas de como escolher uma boa garrafa por menos de R$ 100. O texto está dividido em sete tópicos, confira abaixo.

Quais são os principais tipos de vinho?

Segundo Orlov, existe uma infinidade de tipos de vinhos justamente porque existem diversos tipos de uvas. “No mundo, são conhecidas pelo menos 5 mil espécies de uva diferentes. Ou seja, você pode fazer, pelo menos, cinco mil vinhos diferentes, isso se você não misturar uma com a outra”, explica o empresário.

Mas, para resumir todas essas diferentes opções, temos cinco principais tipos de vinho:

Vinho tinto, produzido por meio da fermentação do suco extraído de uvas tintas; Vinho rosé, produzido a partir de uvas tintas por diferentes estilos de vinificação; Vinho branco, produzido a partir de uvas brancas e também tintas, com método de produção distinto a do vinho tinto; Espumantes, tipo de vinho produzido com gás carbônico dissolvido.

Pode ser produzido tanto por uvas brancas quanto por uvas tintas (aqui se encaixa o champagne); Vinho licoroso, que são aqueles que têm a fermentação interrompida antes do término pela adição de aguardente vínica. Eles são caracterizados pela alta taxa de teor alcoólico – entre 19% e 22% – e alta quantidade de açúcar. Também pode ser produzido tanto por uvas brancas quanto por uvas tintas.

De onde vem a ideia de que o Brasil não produz bons vinhos?

Como a uva não é uma fruta de clima tropical, existe essa ideia de que o Brasil não produz bons vinhos já que, geralmente, as frutas são colhidas de dezembro a janeiro, verão no hemisfério Sul.

No entanto, a produção no país já é bem antiga e se desenvolveu bastante nas últimas décadas. “O Brasil faz vinhos espumantes maravilhosos, de renome internacional, e vinhos brancos muito bons também”, afirma Orlov.

Há cerca de duas décadas atrás, uma estratégia revolucionou a produção brasileira. É a técnica de colheita de inverno.

“Através do manejo, você leva essas frutas a serem colhidas no nosso inverno, de julho até o começo de setembro, quando os dias são de muita insolação, porque normalmente não chove, e noites frias, clima perfeito para a maturação das uvas”, explica o empresário de Franca.

Segundo Orlov, essa técnica garantiu que o Brasil conseguisse, além de fazer bons vinhos espumantes e rosé, produzir bons vinhos tintos também. A partir disso, o país “entrou no mapa do mundo dos vinhos tintos de alta qualidade”.

“Hoje, a gente faz vinhos incríveis, tanto branco, rosé, espumantes, quanto tintos que não deixam de fazer frente a vinho de nenhum lugar do mundo. Vinho brasileiro, hoje em dia, é excelente com todas as letras”, afirma.

Quais fatores influenciam no preço do vinho?

O preço do vinho varia bastante e o principal motivo é o quanto de trabalho ele demandou do produtor. Vinhos mais “nobres” costumam levar mais tempo para ficarem prontos.

O ciclo, de quando você poda a videira até quando você tem garrafas para vender daquela videira que você podou, é de mais ou menos 900 dias para vinho fino, nobre. Então imagina, o tempo de feitio desse vinho de alta qualidade é de três anos”, explica o empresário Orlov.

Geralmente essas bebidas passam por diversas etapas, que vão desde a plantação e colheita na vinícola até a fermentação alcoólica e malolática e o armazenamento em barrica. Tudo isso agrega no preço final do vinho.

Outro fator que pode encarecer a bebida é a baixa produção. “Tem algumas uvas que você planta, cuida, e ela te dá uma quantidade de uvas para vinificação muito pequena”, esclarece Orlov.

Em contrapartida, há castas de uvas que dão uma produtividade maior. Ou seja: a questão do trabalho e da produtividade também podem interferir bastante no preço final do vinho. Mas isso não quer dizer que vinhos mais baratos sejam piores.

Vinho bom é vinho caro?

<j> Não necessariamente. Vinhos mais caros geralmente possuem uma longevidade maior, por isso, eles demandam maior durabilidade e isso requer mais tempo e investimento para confeccioná-lo.

Os vinhos mais baratos são vinhos mais simples, o que não significa que são vinhos ruins: eles apenas não foram feitos para durar anos e anos na adega. “Em geral, esses vinhos são para consumo mais rápido. É um vinho que você não tem uma longa duração no feitio, eles entregam menos aromas e nuances organolépticas”, diz Orlov.

Chamamos de propriedades organolépticas aquelas que podem ser facilmente percebidas pelos sentidos do corpo humano: olfato, visão, paladar e tato. No caso do vinho, são nuances que serão sentidas tanto pelo paladar quanto pelo olfato.

Temos boas opções de vinhos mais acessíveis por preços até R$ 100, boas opções de vinhos brasileiros, portugueses, chilenos e argentinos. Só que sempre são vinhos um pouco mais simples”, afirma o empresário.

Vinho envelhecido é melhor?

Conforme explica o empresário, nem todo vinho foi feito para ser envelhecido. Os vinhos mais finos, feitos para esse propósito, são justamente os que costumam ser mais caros.

Tem vinhos italianos e franceses que tomar com menos de 15 anos é um sacrilégio”, brinca Orlov.

Ele explica que a bebida tem uma espécie de curva para medir a melhoria conforme o tempo desde o engarrafamento. Em dado momento, o vinho atinge seu ápice e depois ele começa a decair até “estragar”.

Um vinho mais simples e, portanto, mais barato, não deve durar muitos anos. “Esses vinhos, normalmente, têm uma subida muito rápida, um ápice pequeno e depois um declínio”, explica o empresário.

Com os vinhos mais elaborados, essa ascensão costuma ser um pouco mais lenta. Isso explica o porquê eles podem (e devem) ser guardados por vários anos. “Ele vai ganhando tempo de garrafa, vai fazendo a troca de oxigênio em uma micro-oxigenação através da rolha, vai ganhando novas nuances”, explica Orlov.

Existem tipos de vinho certos para o inverno ou para o verão?

Para Orlov, vinho é, na verdade, uma bebida gastronômica e, por isso, existem indicações de pratos para harmonizar melhor com uma determinada garrafa.

Isso porque, conforme ele explica, o vinho é considerado não apenas uma bebida alcoólica, mas um complemento alimentar.

Ele vai ajudar na sua digestão, fazer bem para o coração, para as veias, tem um monte de benefícios. Além de unir as pessoas e proporcionar momentos agradáveis”, afirma.

Nesse sentido, o vinho branco costuma combinar melhor com frutos do mar. “Isso porque peixes e frutos do mar em geral têm um pouco de iodo, e o vinho tinto tem um composto chamado tanino que não combina muito com o iodo”, explica.

O tanino é um componente presente nas cascas, sementes e engaço de uvas tintas, principalmente. Trata-se de uma defesa da planta, o sabor mais amargo afasta pragas e insetos. Nos vinhos, este composto causa uma sensação de secura na boca.

É claro que todos são livres para escolherem a bebida que desejarem para acompanhar uma refeição, embora existam essas indicações de combinações. E não é difícil de lembrar: vinhos brancos costumam harmonizar melhor com carnes brancas e frutos do mar.

Já o vinho tinto vai melhor com comidas mais pesadas, como massas ou, até mesmo, uma feijoada. “Feijoada com vinho Tannat ou Serrat é maravilhoso, é uma harmonização perfeita. Ele tem potência, adstringência e torna a experiência de comer uma feijoada melhor”, afirma Orlov.

Já em relação ao clima, em tempos de calor, os vinhos tintos costumam acompanhar o prato principal. Já os brancos, rosé e espumantes gelados garantem uma sensação de refrescância.

Como escolher um vinho bom e barato?

Como as opções abaixo dos R$ 100 são de vinhos mais simples, a principal dica é escolher aqueles que não são de safras antigas, justamente pela curva que mede a relação de melhoria e tempo ser menor.

Se tratando de vinhos mais baratos, escolha vinhos mais ‘jovens’, seja branco, tinto ou rosê”, aconselha Orlov.

O empresário afirma que, além de vinhos produzidos no Sul do país, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde o clima é mais propício para o cultivo das uvas, a região Sudeste também oferece boas opções para o consumidor.

No interior, se destaca a região de Ribeirão Preto (SP) e Franca, bem como as produções da Serra da Mantiqueira e Jundiaí (SP).

Outro fator importante é prestar atenção se o vinho é seco e suave, e Orlov ainda tem uma aposta especial.

O suave é aquele um pouquinho mais adocicado, que o brasileiro gosta também. Porém eu sugeriria que as pessoas prestassem atenção nos vinhos secos, seja branco ou tinto. Ele tem um pouco menos de dulçor, mas ele harmoniza um pouco melhor e faz mais bem para a saúde, porque tem um teor de açúcar menor que os demais”, diz.