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Verdade seja dita

Faz-se a crônica, não a fofoca. Não escondo de ninguém: tenho horror à fofoca. Prima-irmã da intriga e vizinha de parede do mexerico. Tripé que não dá pé. Coisa feia!
E há base e sustentação para tanto. Nada é baseado em fatos reais e concretos.  Falam, não há como desmentir, e está falado. De repente, a verdade não fica estabelecida. Transformam-se em meras especulações. Daí que, sob protesto, não aprovo gestos abusivos de pessoas que se entregam a essas perniciosas manias do disse me disse.
Há quem pense e julgue que só as mulheres se incluem nessa prática e derivações. Estribado engano. Os salões de barbeiros estão repletos de simpatizantes dessa não justa causa. Na escala de valores, e não deixa de ser curioso, homens mexericam tanto ou mais, o que é muito feio.
Falassem de Cruzeiro e Atlético; Flamengo e Corinthians, tudo bem. Ou de Palmeiras, o xodó de muitos e muitas. Mas não. Gostam mesmo é de falar da vida alheia, como se a atitude tivesse recheio. Não tem graça alguma.
Pelas leis não regentes, porque não regulamentadas, onde o certo é errado e o inverso costuma ser verdadeiro, fico um tanto chateado e entristecido com isso.
Na absurda imensidão da troca de valores, de pouca monta é tentar mudar a ordem das coisas, as pessoas, o estilo de vida de cada um. Decididamente não se vai ter sucesso. Se alguém se julgar no direito de intrometer-se nos problemas alheios, sem o intuito de ajudar, fatalmente vai envolver-se no rol dos penetras, dos não convidados, cujo destino não será  nem um pouco agradável. Pelo contrário.
Por que ser adepto da boataria? Lançar a esmo o que não convém: notícias e informações falsas e desencontradas? De se assegurar, não é uma boa; é uma bomba.
No reino prosaico da fantasia de propagandistas de não boas-novas, os autores não agem diferentemente. Iniciam a fala com uma frase bem conhecida: “A bem da verdade...”. E tomem bafos.
Daí que é um não ajuste à realidade dos fatos e do conhecimento puro e simples. Julgamento feito e aceito como se fora o fiel da balança. A propósito no despropósito: que verdade é essa? E outra: não existe meia verdade.
O campo minado da prospecção é o mundo da fantasia, do faz de conta, sem criatividade e nenhuma serventia. Mau gosto, sim. Se na penumbra do enunciado houvesse uma réstia a iluminar a exposição de motivos, tudo bem. Decididamente não há. Traz pesadelo sem luminárias. Como diria em latim o amigo João Domingos de Moraes: “Nec caput nec pedes”. Sem pé nem cabeça.
Até certo ponto gracioso o dito não verdadeiro, porém esculpido em madeira de lei, purificada justiça aos representantes dos humorísticos. Caso específico do saudoso Chico Anysio, humorista maior de nossa lembrança, bom em tudo que fazia. O personagem Coronel Pantaleão que o diga. “É mentira, Terta?” Nos chistes, histórias puras e não tão verdadeiras, ao que a companheira Terta, anos 70/80 e 90, dava como: “Verdade!”.
Conta-se um conto e se aumenta um ponto, ou mais. De preferência, não traga prejuízo a terceiros. Fica-se falado e não fadado a escândalos. Barraco construído para suprir outro no rio da vergonha, no teor e terror do ridículo, é de morte. Ambos caem e o dinheiro desaparece.
Vejo situações com olhos de lince, quem sabe o perscrutar de uma águia. As eventualidades apostas no compasso dos rios que correm para o mar. E este, prazerosamente, os recebe de braços abertos, no sal da doçura, sem se preocupar com as ondas torrentes de mal-entendidos. Vejo, ouço, reprovo e não gosto.
No conflito do horror sobre a vida alheia, não há por que xeretar.  Se não é para ajudar, princípios da razoabilidade apontam para o não atrapalhar. O invasivo cheira a cachorro molhado. Caso segredo fosse válido na esteira do recomendável, não seria passado adiante a pequenas ou grandes bocas. Os acessos e incursões são detestáveis.
No contexto de uma imprecisa civilização, sem pedir licença, surgem fofocas para complicar ainda mais ao dia a dia de nossos dias. Por sorte – assim espero – incluo-me fora de abjetos objetos contextuais. Deus me livre ser alvo de comentários maldosos e maledicentes. E as redes sociais são um perigo.
Mais ou menos assim, se importar fica ruim, se não importar pode ficar pior. Bom mesmo é jogar conversa fora e não passar adiante. Na verdade – e verdade seja dita – ninguém é tão santificado assim nas cusparadas do tempo e no campo de uma boa prosa. 

LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna.

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