20 de maio de 2024
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LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO
“Onde te querem muito não vás amiúde.” É bom e gostoso estar no meio de gente que gosta de nós e se sente bem com nosso convívio. Mas os amigos podem desejar nossa presença porque somos de bom humor, pagamos a conta, damos mais segurança a todos, temos palavra fácil e agradável. Boa razão para se estar numa festa. Mas o provérbio nos adverte: é prudente não ir a todas as festas, é prudente não fazer de nossa presença a condição de a festa se fazer ou não. É bom a gente ser esperado. Mas é bom também que sintam a nossa falta. É bom participar. Mas é perigoso a festa de todos depender de nós. Não somos a máquina da festa. Somos uma peça da máquina. Fazemos a nossa parte para que o todo funcione bem. – Frei Clarêncio Neotti, OFM, folhinha do dia 15 de maio de 2024, quarta-feira, do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda., de Petrópolis, RJ; e-mail: cneotti@yahoo.com.br
É gostoso estar sempre no meio de pessoas que demonstram gostar da gente, como afirma o frei, é claro! Mas como tudo na vida, sempre existem os dois lados, às vezes até três ou mais. Mas os amigos gostam de nossa presença pelo que somos, como somos, ou apenas pelo que fazemos por eles? Somos educados, gentis, atenciosos e não desprezamos ninguém, mas só isso já é suficiente para que sejamos desejados constantemente em qualquer reunião ou festa? Não haveria aí outros motivos, interesses escusos, escondidos? Se somos pessoas abnegadas, talvez possamos atrair pessoas com intenções não tão boas.
O provérbio dá a entender, assim pensou eu, que há pessoas que são apenas interesseiras. Por isso, é bom que fiquemos um pouco distantes das reuniões ou festas. Se somos pessoas de boas posses e estejamos sempre dispostos a pagar as contas, a patrocinar as festas, a possibilidade de atrair interesseiros será sempre maior.
Existem pessoas de todos os tipos, aquelas que demonstram boas intenções e sinceridade e aquelas que sabem dissimular muito bem. Não é tão difícil que consigam nos enganar.
Eu acredito que cada situação precisa ser analisada, estudada com muito carinho e cuidado. Não podemos, simplesmente, nos afastar do convívio de pessoas ou grupos de pessoas que demonstram nos querer bem, mas é preciso cautela, pois nesses grupos sempre poderá haver alguém que não seja totalmente de confiança e esteja ali apenas para tirar algum proveito. Mas é do convívio que poderemos conhecer as pessoas, fazer algum julgamento. Os julgamentos também precisam ser criteriosos para que não incorramos em falsos julgamentos, para que não pratiquemos injustiças. Se podemos, vez ou outra, deixar de comparecer em uma festa ou reunião, mesmo que sintam a nossa falta, será bom para nós. Não nos sentiremos os donos da festa, apesar de ser bom que as pessoas desejem nossa presença, mas também, pode ser bom que sintam a nossa falta. Poderemos saber se o fato de sentirem a nossa falta foi sincero ou não. Como diz o frei, é bom participar. Como ele diz ainda, é bom ser esperado, mas, também, é bom sentirem a a nossa falta, como já foi afirmado. É bom participar, mas a festa de todos não pode depender apenas de nós. O ser humano é um ser social, convive em sociedade, mas para tanto, é preciso cultura, juízo, sentimento humanitário para saber conviver em grupos sociais. Não podemos nos sentir a principal máquina ou engrenagem de uma reunião ou festa, a não ser que sejamos a pessoa a ser consultada ou homenageada. Fora isso, somos apenas uma simples peça de todo um aparato. Temos de fazer a nossa parte sempre em benefício do grupo todo, de todas as pessoas envolvidas, mas com muita cautela, sabendo separar, como diz a Bíblia, o joio de trigo.
Pessoalmente, eu considero toda essa situação de amizade um assunto muito complexo e que necessitamos ter um conhecimento muito bom sobre as relações humanas, sejam relações entre duas pessoas apenas ou em grupo. Quanto mais consigamos entender o ser humano, em toda a sua complexidade, melhor juízo poderemos fazer sobre as pessoas que estão ao nosso redor.
Sei que não é fácil, pois assim como todos temos qualidades, também possuímos defeitos. Nós mesmos não somos perfeitos e nem melhor que os outros. Antes de analisar os outros, precisamos nos conhecer melhor também. Ah! Lembrei-me: “Cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém.” Mas, nada de radicalismos!
LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: luizguilhermewintherdecastro@hotmail.com