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Um Punhado de Nada

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho 

Quem nunca ouviu falar de Por um Punhado de Dólares, aquele clássico do faroeste espaguete, estrelado por Clint Eastwood? O título evoca a aridez do Velho Oeste, onde vidas eram trocadas por moedas e valores, por balas. Mas, ao trocar a tela do cinema pela realidade, a frase adquire uma ressonância amarga, revelando o peso de escolhas que traem princípios.

Corromper-se. A palavra soa feia, quase cortante, escorregando pela língua como algo que não queremos dizer, mas que, para muitos, é um gesto feito sem pestanejar. É um ato que destrói mais do que o significado sugere. Para quem cede à tentação de um “punhado de dólares” — imagem que pode ser cifrada em milhões —, o brilho do dinheiro fácil se torna um prêmio ilusório. No entanto, o custo é sempre mais alto do que parece.

Vivemos tempos em que a esperteza parece ter mais valor que a honestidade. Contratos são assinados com promessas vazias, sorrisos falsos pontuam acordos sujos e a sensação de invencibilidade do corrupto cria uma armadura de cinismo. No palco das negociatas, aplaude-se o oportunista enquanto o honesto luta no silêncio do anonimato.

Mas a ilusão tem prazo de validade. Um punhado de dólares nunca compensa a venda da própria dignidade. É como beber água salgada no deserto. A princípio, pode parecer uma solução, mas apenas agrava a sede. Os castelos de areia erigidos pela corrupção, cedo ou tarde, sucumbem ao vento impiedoso da verdade. Quando a queda acontece — e ela sempre acontece —, não há apenas um homem no chão. Família, amigos, companheiros e até gerações futuras sofrem as consequências do erro, sentindo o peso de uma vergonha que não pediram para carregar.
Será que compensa? A resposta é tão clara quanto difícil de aceitar para quem escolhe o atalho: não compensa. Não compensa, porque dinheiro nenhum pode comprar a paz de uma consciência limpa. O repousar manso de um sono tranquilo. Não vale porque a alma sabe o exato preço da vergonha, mesmo quando o bolso está cheio. Não compensa, porque o “vencedor” de hoje será mais um esquecido amanhã, lembrado apenas como mais um nome a mais em uma longa lista de desonras.

No fim, o punhado de dólares vira pó. Nada sobra além de arrependimento e vazio. Nem no faroeste espaguete os bandidos terminam vitoriosos: a poeira baixa, o duelo acaba, e tudo o que resta são os ecos de uma vida desperdiçada.

Na verdade, a corrupção não tem créditos finais ou aplausos. Só o silêncio pesado de quem trocou tudo por absolutamente nada.

Pós-escrito: Para o discípulo que se esqueceu dos valores éticos e morais em relação aos bens materiais. Hoje, fere de morte a honra e a gratidão, sem pensar que o tempo – inexorável tempo – exige respostas. E cobra.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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