Opinião

Um gesto de grandeza

11 de agosto de 2025

Foto: Reprodução

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

 

“A pátria não é de ninguém: são muitas. E quem a serve, serve a todos.” – Rui Barbosa

Não se trata de condenar nem de absolver. Tampouco é um texto contra ou a favor – como tem sido a retórica simplista dos nossos dias. O que se propõe aqui é apenas uma pausa. Uma respiração mais funda no meio do turbilhão. Um exercício de imaginação cívica, nacionalista e, por que não, moral.

O Brasil anda exausto. Exausto de seus próprios fantasmas e de seus heróis inflados. Exausto de ruídos, de gritos, de decisões monocráticas e de frases de efeito. Os Três Poderes da República, que deveriam se equilibrar com nobreza e respeito mútuo, parecem hoje mais empenhados em medir forças do que em construir soluções. E nisso, todos perdem. Perde a democracia, perde a confiança pública, e perde a esperança.

No meio desse palco conturbado, um nome brilha –– ou arde – mais do que todos: Alexandre de Moraes. Ministro do Supremo Tribunal Federal, ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, figura de mil manchetes. Para uns, é o guardião firme da institucionalidade. Para outros, um símbolo de excessos e protagonismos perigosos. Mas, acima de tudo, é um foco. Um epicentro. Uma espécie de espelho onde os nervos do país se projetam, se inflamam e se confundem.

E se, num gesto inesperado – e por isso mesmo grandioso – Alexandre de Moraes decidisse sair de cena? Não por fraqueza, não por pressão. Mas por patriotismo. Por inteligência estratégica. Por amor ao Brasil.

Sim, sabemos que sua saída não resolveria, por encanto, os nossos problemas. O tarifaço americano continuaria existindo. As crises políticas não desapareceriam. O impasse em torno da figura do ex-presidente Bolsonaro seguiria seu curso, com seus inquéritos, seus prazos e seus ruídos. A ideia de que uma única peça resolva todo o tabuleiro é infantil. E perigosa.

Mas, ainda assim, e se?

E se o ministro, ao perceber que se tornou personagem central de uma narrativa que ultrapassa o campo jurídico, entendesse que o gesto mais nobre – e mais difícil – seria o de recuar? Não por omissão, mas por sabedoria. Não por medo, mas por coragem.

Poderia, com isso, devolver ao Supremo sua discrição. À República, sua harmonia. Ao país, algum fôlego.

É claro que muitos vão dizer que isso seria ceder. Outros, que seria fugir. Mas há momentos em que o verdadeiro poder está justamente na renúncia. Em entender que o excesso de luz sobre um nome, qualquer nome, enfraquece as instituições e alimenta fantasmas.

A pergunta, portanto, é menos sobre o ministro e mais sobre o gesto. O gesto de grandeza. O ato cívico de quem reconhece que o Brasil precisa reencontrar sua compostura, sua confiança e sua capacidade de olhar adiante.

O cronista maior, Rubem Braga, em tempos difíceis, escrevia com o coração aflito, mas inteiro. Talvez dissesse que esta é apenas mais uma crônica triste sobre homens sérios que se esqueceram da Pátria. Ou talvez escrevesse, com sua pena mansa, que a verdadeira grandeza mora no silêncio – e que, num país em conflito, quem se retira por amor ao Brasil não se omite: se eleva.

E, se essa renúncia jamais acontecer, que ao menos inspire outras formas de grandeza – vindas de qualquer esfera – capazes de restaurar o respeito, a compostura e a esperança nacional. Quem sabe?

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista. (luizgfnegrinho@gmail.com)