BELO HORIZONTE – Folia das Almas, Boi Balaio, Guarda Romana: esses nomes podem ser desconhecidos de muitos mineiros, mas são apenas alguns exemplos de ritos e celebrações típicos da Semana Santa em Minas Gerais.
Para impulsionar o turismo religioso, de modo a preservar essas tradições e gerar emprego e renda, a Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu na quinta-feira, 31, autoridades e especialistas no assunto.
O presidente da comissão, deputado Mauro Tramonte (Republicanos), lembrou que a cultura e a arte relacionadas à devoção religiosa estão presentes em todos os municípios mineiros e movimentam turistas que fazem peregrinações e participam de eventos e festividades.
Exemplos da fé que movimenta diversas cidades mineiras não faltam. O reitor do Santuário Santa Rita em Cássia, padre Michel Donizetti Pires, contou que o complexo dedicado à santa das causas impossíveis tem heliponto e estacionamento para 200 ônibus e mil carros. Mais de 100 mil fiéis passaram pelo santuário no dia da sua inauguração, em maio do ano passado.
Em Congonhas (Região Central do Estado), são esperadas 200 mil pessoas no Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos, celebrado entre 7 e 14 de setembro no santuário tombado como patrimônio cultural da humanidade. “A cidade respira tradição, religiosidade, história e cultura”, afirmou o secretário municipal de Cultura e Turismo, Jean Ângelo de Oliveira.
O Governo do Estado, por meio do Observatório do Turismo, realizou um levantamento sobre as manifestações religiosas e o perfil do turista da fé. Segundo a diretora de Produtos Turísticos da Subsecretaria de Estado de Turismo, Emanuelle Oliveira, foram catalogadas 17 rotas de peregrinação e 1.025 edificações religiosas. Em 2023, já foram realizados 300 eventos de fé em todo o Estado.
A gestora informou que o governo trabalha com prefeituras e outras instâncias de governança para estimular o turismo religioso. O trabalho envolve a promoção de campanhas para dar visibilidade aos atrativos turísticos e o mapeamento das iniciativas relacionadas à fé e à devoção.
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) elaborou neste ano o Cadastro de Celebrações e Ritos da Quaresma e da Semana Santa. A gerente de Identificação e Pesquisa do Iepha, Ana Paula Trindade Gomes, explicou que o levantamento foi feito com um formulário online, por meio do qual prefeituras e paróquias puderam encaminhar suas informações.
Foram catalogadas 679 manifestações culturais em 571 municípios mineiros, como procissões, tapetes devocionais e encenações da Paixão de Cristo, além de apresentações em igrejas evangélicas e tradições de matriz africana. “É um guia importante para promover a difusão de informações e possibilitar a estruturação de roteiros religiosos”, afirmou a gerente.
Turismo religioso dinamiza a economia
O turismo religioso é importante para fidelizar visitantes, dinamizar as atividades econômicas em seu entorno e contribuir para a preservação do patrimônio histórico e artístico. A avaliação é do presidente da Federação de Convention & Visitors Bureaux, Roberto Fagundes.
Para ilustrar a importância dessa modalidade de turismo, ele citou os números do Santuário de Aparecida (SP), que recebe 12 milhões de visitantes por ano. Juazeiro do Norte (CE), onde fica a estátua do Padre Cícero, recebe 2,5 milhões de turistas anualmente.
Para Roberto Fagundes, Minas Gerais também pode se beneficiar do turismo de fé. Ele lembrou que o Estado abriga quatro patrimônios culturais da humanidade, todos com viés religioso: Ouro Preto e Diamantina, com suas igrejas barrocas; o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas; e o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, onde fica a Igreja de São Francisco projetada por Oscar Niemeyer.
Na avaliação do especialista, é preciso superar desafios como más condições de estradas e garantir a oferta adequada de hotéis, restaurantes, comércio e guias especializados para fomentar ainda mais o turismo em Minas.