17 de julho de 2024
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WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA
Trago aqui, hoje, apenas para um pouco de reflexão e de diversão, um tema que surgiu em recente conversa em grupo de WhatsApp do qual participo, em que uma integrante postou um vídeo partilhado pelo canal Intercept Brasil, onde a psicanalista Maria Rita Kehl, sendo entrevistada, “critica a ideologia de ‘gostar do trabalho’ como uma forma de mascarar a exploração. Ela alerta que a aceleração do trabalho não beneficia o trabalhador, mas sim a acumulação de capital”.
Pela origem, a palavra trabalho deriva do latim ‘tripalium’ ou ‘tripalus’, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados. Curiosamente, era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo ‘tripaliare’, cujo primeiro significado era “torturar”.
Já pela definição da Enciclopédia Significados, “trabalho é um conjunto de atividades realizadas, é o esforço (físico ou intelectual) feito por indivíduos com o objetivo de atingir uma meta. Pode ser abordado de diversas maneiras e com enfoque em várias áreas, como na economia, na física, na filosofia, na história, etc.”, a exemplo de: trabalho em equipe, trabalho infantil, trabalho voluntário, trabalho escravo, trabalho doméstico, etc.
Fato curioso, na narrativa do Gênesis, o trabalho está associado intimamente ao homem desde o princípio: “… tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” e, ainda, “… No suor do teu rosto comerás o teu pão.”
Estas são apenas algumas singelas concepções de trabalho que não pretendem esgotar tão vasto e complexo tema que, de certa forma, divide a humanidade e gera antagonismos inconciliáveis há um bom tempo.
Esta conversa toda me faz lembrar de fato ocorrido com um conhecido meu, aqui em Minas Gerais, em que ele conta que determinada funcionária da repartição pública onde trabalhavam já chegava cansada para trabalhar, em plena segunda-feira, logo às 08h. E isso era recorrente nos demais dias da semana. Dizia ela, repetidamente, ao seu chefe: “Tô cansada, isso aqui não é vida, não. Trabalhar todo dia, até sexta-feira. Na minha terra, eu era dispensada de trabalhar na sexta. Me (sic) libera. Quero voltar pra …” (não vou dizer o nome do Estado, pra não correr o risco de ser indelicado e nem de ser processado). E, por fim, depois de algum tempo, a funcionária acabou retornando, feliz, para o seu Estado de origem.
Conto esta historinha acima só para ressaltar que, mesmo dentro de um país como o Brasil, há diferentes concepções de trabalho e sua relação com a felicidade e infelicidade, variando de uma região para outra, com grande contraste cultural de norte a sul do país.
Concluindo, mas não encerrando o assunto, essa questão do trabalho é um dos aspectos importantes (e angustiantes) da vida, mas não representa, por si só, a solução para os problemas da vida, seja onde e em que regime político/econômico for. Queremos, naturalmente, via de regra, o melhor de dois mundos: os benefícios de um, sem os sacrifícios do outro.
Trabalhar menos ou mais, não trabalhar, etc., é, antes, consequência de uma cosmovisão (afinal, o que somos nós, o que é o mundo?) do que o seu motor.
Se não compreendermos bem mais sobre isso, o trabalho continuará dando trabalho – e não sendo solução. E, mesmo assim, solução parcial, porque a solução idealizada em um mundo idílico capitalista ou socialista beira a fanatismo religioso, um sonho onde todos os problemas do homem se resumem ou se resolvem dentro de uma destas duas ideologias ou de outra qualquer.
O assunto é vasto, instigante e interminável. E dá trabalho discuti-lo (rsrsrs).
Por ora, vou ficando por aqui. Já trabalhei o suficiente (ou não?).
“Y don’t want to stay here, y wont to go back to…”.
Saúde e paz a todos!
WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA, advogado, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna