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Tancredo, 40 anos depois: centro democrático precisa de coragem para convergir

Foto: Reprodução

Pedro Rousseff

Neste último dia 21 de abril, completaram-se 40 anos da morte de Tancredo Neves — um dos nomes mais emblemáticos da história política brasileira. Mineiro de São João del-Rei, Tancredo não foi apenas o primeiro civil a assumir a presidência após a ditadura: foi também o símbolo de um tempo em que o país precisou de pontes, mas jamais de covardias.

Em um famoso áudio, gravado na sessão que cassou o mandato de João Goulart, na madrugada de 2 de abril de 1964, ouve-se ao fundo uma voz gritando, indignada: “Canalhas! Canalhas! Canalhas!!”. O grito partia de Tancredo, endereçada ao então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade. É dessa fibra que se forjam as verdadeiras lideranças democráticas: da capacidade de dizer “não” ao arbítrio mesmo quando a maioria se cala. Da coragem de ocupar um espaço de centro sem abdicar de posição.

É comum que o nome de Tancredo seja associado ao “centro democrático”. Mas o centro, para ter algum valor político, não pode ser sinônimo de ausência de ideias. A vocação centrista que o mineiro encarnava era outra: a de unir diferentes projetos e correntes políticas em torno de um bem maior — a reconstrução democrática do Brasil. Seu centro era enraizado na realidade do país, atento às desigualdades sociais, à necessidade de desenvolvimento e ao respeito institucional.

Foi com esse espírito que Tancredo costurou a aliança que nos tirou da ditadura. Soube reunir em torno de si nomes vindos da oposição e até da antiga Arena. E o fez sem negar suas convicções, sem abrir mão da justiça e da esperança por um país melhor.

Hoje, quando o Brasil enfrenta novamente uma encruzilhada — com o bolsonarismo ainda vivo e a extrema direita tentando capturar o debate público — lembrar Tancredo é reafirmar que liderar não é agradar a todos, mas sim articular caminhos possíveis. E que para isso, é preciso ter lado, princípios e estatura política.

Minas precisa reencontrar essa tradição: a de lideranças que sabem falar ao país inteiro, mas que não confundem conciliação com covardia. O Brasil precisa de pontes, sim — mas de pontes que levem a algum lugar, não de muros pintados de neutralidade.

Tancredo morreu antes da posse, mas deixou lições que seguem vivas. Que os 40 anos de sua partida nos inspirem a construir, com firmeza e generosidade, a unidade política necessária para que o campo democrático-popular continue forte — em Minas e no Brasil.

O futuro exige coragem. E coragem, em tempos difíceis, é saber unir sem se omitir.

 Pedro Rousseff é vereador em Belo Horizonte. Foi Conselheiro Municipal da Juventude de Belo Horizonte e trabalhou na coordenação da campanha do presidente Lula em Minas Gerais, nas eleições de 2022.

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