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Surgimos para quem?

Pedro Rousseff

Maio, mês do trabalhador, é mais do que uma data simbólica. É uma lembrança concreta de quem somos, de onde viemos e por que existimos como projeto político.

A história do Brasil é marcada pela exclusão. A política sempre foi ocupada por quem detinha a terra, a farda ou o capital. O trabalhador foi tratado como massa invisível, descartável. Por muito tempo, o Estado o ignorou, os partidos não o representavam e a democracia se resumia a um pacto entre elites.

Foi com o surgimento do Partido dos Trabalhadores que essa lógica começou a ser desafiada. E não foi à toa. O PT nasceu onde o sistema não olhava: nas greves reprimidas, nas comunidades de fé, nos barracos, nas periferias. Foi uma resposta direta à ausência de representação popular no jogo institucional.

Lula não foi o primeiro a sonhar com justiça social. Mas foi o primeiro a transformar esse sonho em um governo. Um operário, sem diploma universitário, colocou o trabalhador no centro das decisões do país — e isso jamais foi aceito pelas elites que sempre comandaram o Brasil. O resultado é conhecido: perseguição, golpe, criminalização e a tentativa permanente de apagar o que representamos.

Hoje, enfrentamos novamente um projeto que tenta excluir o povo da política. O bolsonarismo, embora se vista de novidade, representa a continuidade de um modelo de Brasil: o Brasil do patrão sem contrapeso, da mão de obra barata, da democracia controlada. E, diante disso, temos perdido espaço.

Perdemos espaço porque, em muitos momentos, deixamos de ouvir o povo. Esquecemos que os meios mudaram, que a linguagem mudou, que a disputa moral e simbólica também é central. Enquanto parte da esquerda repete os mesmos discursos de vinte anos atrás, a extrema direita aprendeu a falar com o trabalhador — ainda que para mentir.

A resposta não está em ceder ao conservadorismo, mas em retomar nossa capacidade de diálogo. Voltar a disputar cada espaço, cada pauta, cada narrativa. Falar com o povo onde ele está: nas filas do SUS, nos aplicativos de entrega, nos bicos, nas diárias. Entender sua vida concreta, seus dilemas reais, e oferecer respostas políticas para isso.

Neste mês do trabalhador, a pergunta que devemos fazer não é retórica. É fundamental.

Surgimos para quem?

E, mais importante: estamos falando com quem?

Que maio seja um chamado à reconexão com as bases que fizeram o PT existir. Porque o partido não pode ser apenas uma legenda de memória. Ele precisa continuar sendo uma ferramenta viva de transformação social.

Pedro Rousseff é vereador em Belo Horizonte. Foi Conselheiro Municipal da Juventude de Belo Horizonte e trabalhou na coordenação da campanha do presidente Lula em Minas Gerais, nas eleições de 2022.

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