5 de agosto de 2025
Foto: Reprodução
O jornalista José Roberto Dias Guzzo morreu aos 82 anos em São Paulo na madrugada de sábado, 2. O profissional era colunista em diversos veículos de comunicação e faleceu em decorrência de um infarto, segundo informação divulgada pela revista Oeste, onde ele era fundador e também atuava como colunista. Leia abaixo sua última coluna, inédita, que ele enviou à Gazeta do Povo.
Se a decisão fosse disponível neste momento para ele, Lula estaria vivendo com toda certeza na Terra do Nunca que a mídia brasileira criou. Nada do que acontece ali, ou muito pouco, tem alguma coisa a ver com a vida como ela é na realidade dos fatos. Em compensação, o presidente teria um mundo ideal por lá. Tudo o que ele faz dá certo. Nas matérias do tipo “quem ganhou e quem perdeu”, está sempre nos “quem ganhou”. Só tem vitórias. Nunca perde nada: eleição municipal, pesquisa de opinião, arcabouço fiscal. Não é o chefe de um governo senil, desmoralizado e corrupto, com zero de resultados em dois anos e meio. É Peter Pan.
A miragem do momento é o que os comunicadores descrevem como a sua vitória no contencioso contra os Estados Unidos e Donald Trump. Levou 50% de imposto nas exportações do Brasil para lá, e não conseguiu punir os americanos em nada – mesmo porque não tem a menor condição para fazer isso. Não conseguiu dar sequer um telefonema para Trump. A ficção de que Lula é um grande “negociador”, criada por ele próprio e aceita como verdade científica pela imprensa, não rendeu dois minutos de conversa com ninguém. Comprou uma briga com a maior potência do planeta sem ganhar nada em troca; não tinha, aliás, nada a propor.
Lula, dizem em peso os analistas, tornou-se o grande favorito nas eleições do ano que vem – que estavam indo para o saco. Enfim, a sova que o Brasil acaba de levar foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para Lula na sua Terra do Nunca
Seu único contato no exterior foi com Colômbia, Chile e outros anões que lhe deram apoio verbal, desejaram boa sorte e foram cuidar da vida. Seus imensos aliados no Brics, a China e a Rússia, continuaram imaginários; não lhes passou pela cabeça criar nenhum problema novo com os americanos para ajudar o Brasil na briga. Muito pelo contrário: a China, mais uma vez sem dar vantagem alguma ao Brasil, está desfrutando de uma inédita licença para entupir o mercado brasileiro com a importação de carros elétricos, que a propaganda lulista apresenta como fabricados “em Camaçari”. Festejaram a vitória da “soberania”, da “honra” e da “firmeza” do Brasil, mas ganhar alguma coisa de útil que é bom, nada.
Na mídia, porém, esse balanço miserável foi transformado num êxito histórico para Lula. Trump, por essa visão, deu “um tiro no pé”; não se explica o que ele perdeu, mas e daí? A popularidade de Lula, que vinha derretendo nas pesquisas, ressuscitou de um dia para outro. A “população”, supostamente indignada com os Estados Unidos, se juntou em apoio decidido ao presidente. O fracasso do seu governo se desfez sem que ele tenha tido de entregar um único mata-burro a ninguém. As sanções não terão efeito na economia; algum probleminha aqui ou ali, mas nada de sério. Lula, dizem em peso os analistas, tornou-se o grande favorito nas eleições do ano que vem – que estavam indo para o saco. Enfim, a sova que o Brasil acaba de levar foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para Lula na sua Terra do Nunca.
Como em jogo de futebol ruim, comemora-se até lateral. O ministro Alexandre de Moraes, com quem o governo Lula mantém um pacto de morte, foi acusado pelos Estados Unidos de violar a Lei Magnitsky, que até outro dia ninguém sabia o que é, mas hoje é mais conhecida que a Lei do Inquilinato. É uma humilhação mundial inédita e arrasadora, que coloca um ministro do órgão máximo da Justiça brasileira na companhia de assassinos em massa, torturadores, terroristas, genocidas e outros criminosos hediondos. É o Brasil que se vê lançado ao rol das nações- bandidas, como violador dos direitos humanos. É o “Processo do Golpe” exposto ao mundo como a farsa que sempre foi.
Mas para a mídia a conclusão é que Moraes foi o grande ganhador dessa história. Saiu barato, dizem ali. Ele não tem conta em banco americano, e nem queria mesmo ir mais para os Estados Unidos; é como se fosse proibido de viajar para a Bolívia, ou tivesse congelados os bens que tem em Marte. Recebeu o apoio dos colegas do Supremo. Lula continua fechado com ele. Está mais forte do que estava. Em suma: nada como ser exposto perante o mundo como um criminoso de país subdesenvolvido. É nisso que estão querendo que você acredite.
J.R.Guzzo foi jornalista