26 de abril de 2024
Prêmios Platino de Cinema 2024 consagra filme do diretor J. A. Bayona / Foto: Divulgação
Era o esperado: o longa Sociedade da Neve, que tinha maior número de indicações, saiu consagrado dos 11º Prêmios Platino do Cinema Ibero-americano, com seis premiações: melhor filme, diretor (J.A. Bayona), ator (Enzo Vogrincic), fotografia (Pedro Luque), montagem (Jaumo Marí) e som (Marc Orts).
A história é mesmo forte: a tragédia da luta pela vida por sobreviventes de um acidente aéreo nos Andes nos anos 1970. O caso havia sido contado em dois filmes anteriores. Mas nunca como agora, colocando a ênfase no processo coletivo de solidariedade dos sobreviventes em um caso de risco terminal. Impecável do ponto de vista da construção, ficou, com justiça, com vários prêmios técnicos.
Se houve alguma surpresa neste Platino foi a excelente premiação do espanhol 20.000 Espécies de Abelhas, da estreante Estibaliz Urresola Solaguren, que ficou com os troféus de melhor filme de diretor (a) estreante, Prêmio Educação e Valores, roteiro (da própria diretora) e atriz coadjuvante (Anne Gabarian). Usa um estilo incisivo, porém delicado (não há contradição entre os termos), para colocar na tela uma história trans, sem apelo a panfletos e clichês hoje usuais quando se trata o tema. Muito bonito.
A obra de um mestre como Victor Erice, Fechar os Olhos, ficou apenas com um troféu – o de ator coadjuvante para José Coronado. Pouco para uma obra fora da curva, e dedicada, de maneira sinuosa, à questão da memória.
Esse mesmo tema deu a vitória ao documentário chileno Memória Infinita, de Maite Alberdi, sobre um homem atingido pelo Mal de Alzheimer que luta contra a doença com o apoio incondicional da esposa. Ambos são figuras muito conhecidas no Chile e o filme é tocante.
O inventivo O Conde, de Pablo Larraín, que retrata Pinochet como um vampiro que sai das trevas de vez em quando, mereceu apenas o prêmio de Direção de Arte. É muito mais que um filme bem construído em termos de ambientação. Representa, como metáfora, esses vampiros da democracia sul-americana que, volta e meia, saem do caixão para assombrar os vivos. Pinochet é um deles; talvez o mais soturno, mas não o único.
Entre as séries, a vencedora foi a argentina Barrabrava, criativa e cheia de adrenalina no retrato de uma torcida organizada de um time fictício, que se torna poderosa ao se associar ao crime e à política.
As outras premiadas foram La Mesías (Espanha): melhor atriz (Lola Dueñas) e melhor coadjuvante (Carmen Machi); Os Mil Dias de Allende (Chile): melhor ator (Alfredo Castro), Yosi, o Espião Arrependido (Argentina) — melhor criador de série (Daniel Burman), El Amor Después del Amor (“Fito Paes – Amor e Música, Argentina) – melhor ator coadjuvante (Andy Chango).
Muitas delas estão disponíveis em serviços de streaming no Brasil e merecem ser descobertas. Em geral não têm divulgação da “mídia especializada” que, como de hábito, se interessa mais por produções anglosaxônicas e, um pouquinho, por europeias de outros idiomas. Fora dessa ilha mainstream há um universo inteiro a ser descoberto, afinal somos também ibero-americanos embora nos esqueçamos disso.