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Só aprende quem quer

Bem sabemos que nossos alunos e nossos filhos têm capacidades distintas de aprendizagem. Cada um com seu ritmo de desenvolvimento, tanto intelectual e psicológico quanto motor.
Somos diferentes, e é isto que nos proporciona o crescimento peculiar a cada um. Estamos sempre aprendendo através de nossas experiências, da leitura, de estudos e exercícios, e também, com os outros, além de aprendermos muito com nossos próprios erros, embora muitos tenham dificuldade em admitir suas falhas e limitações.
Cada vez mais, as pessoas são induzidas a serem imediatistas, levando em conta apenas o que lhes acontece a curto prazo. “O resultado é uma permanente insatisfação, porque a questão básica na vida não é apenas como obter maior prazer. Isso é uma coisa importante, pois ninguém gosta de viver contrariado ou sofrendo. Mas o que nos torna humanos é a capacidade que temos de sacrificar, por certo período de tempo, o nosso prazer, em troca de uma satisfação mais duradoura”, como nos diz o médico Moacyr Scliar.
Ninguém consegue ensinar para quem não quer aprender. Parece óbvio e simples, mas não é. Um exemplo, que sempre utilizei em reuniões e palestras, foi que se eu decidisse ensinar alguém a tocar violão, por exemplo, e essa pessoa não estivesse interessada em aprender, todos os meus esforços seriam em vão. Por coincidência, ao entrar em contato com a crônica do Dr. Scliar, ele narrava a seguinte situação: “Quando eu era menino, minha mãe arranjou-me uma professora de piano. Eu não gostava de piano, mas gostava de minha mãe, de modo que ia regularmente às aulas. A ‘PROFESSORA’ tinha um método peculiar de ensino; ela empunhava uma pesada régua, com a qual mostrava as notas na pauta e batia nos dedos dos alunos quando erravam. Apanhei tanto que cheguei a uma conclusão: se eu um dia aprendesse a tocar piano, seria o único pianista sem dedos”.
Aprofundando um pouco mais essa reflexão, tomamos conhecimento de que pesquisadores da área de Psicologia incluíram recentemente em sua pauta de estudos um tema que costumava aparecer apenas nos currículos de Filosofia e Literatura, a ‘Felicidade’. Ela é um dos componentes que se busca, e espera-se que exista, nos relacionamentos em casa e na escola. Estudos recentes afirmam que a escola moderna é um local para se sentir bem, sentir-se feliz aprendendo. Que o aluno precisa sentir prazer em ir para a escola.
Ocorre, porém, um pequeno problema real, que tem impedido que isso ocorra com a frequência necessária e desejada nas relações educacionais: a boa vontade e a devida preparação dos educadores. Segundo o pesquisador Roger Gould, as pessoas têm um enorme campo de mudança no que diz respeito a sua personalidade. Não apenas porque os traços negativos podem ser atenuados, mas porque, em geral, há muita coisa para ser mudada: “Os estudos mostram que 75% dos profissionais têm traços de caráter e de personalidade que dificultam o exercício de todo seu potencial pessoal na família e na empresa”.
Há muitas maneiras de exercer uma profissão e a de educador é um exemplo disso. Como em qualquer ramo de atividade, é necessário dedicação e esforço para se desenvolver um bom trabalho. É sacrifício? Só em parte. Talvez a pessoa não ganhe destaque social, não fique milionária, não ande em carrões ‘último tipo’, mas a alegria, a satisfação que se tem, fazendo alguma coisa pelas crianças e jovens, essa alegria – acreditem – não há dinheiro que pague.
Só aprende quem quer, mas para se querer, é necessário motivação. Partindo da motivação interior do educador, transmitindo no dia a dia seu otimismo aos educandos, certamente haverá maior rendimento e interesse em aprender, em participar das aulas e atividades. Toda mudança só acontece quando é de “dentro para fora”, a partir de uma tomada de consciência. O educador tem a seu favor três fatores inquestionáveis: é mais velho, mais experiente e tem mais estudo que os alunos. Basta, então, canalizar todo esse potencial para uma nova ‘prática’ educativa, que seus alunos terão interesse em “querer aprender”. Vale a pena tentar.

DÉCIO MARTINS CANÇADO

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