Conheço pessoas que se destacam no mundo dos negócios, ao passo que, nos tempos de escola, não foram brilhantes alunos. Como tive colegas que atingiram o “dez” nas disciplinas curriculares, no decorrer do tempo, não ultrapassaram o “zero” em termos de realização pessoal com vistas ao bem-estar social. Perdoem-me a rudeza da colocação: não fazem nem para o cigarro que não fumam. E nas salas de aula eram talentosos a fazer inveja aos seus pares.
Isso não é novidade para ninguém. Muitos defendem a tese, o fator inteligência emocional entra na parada para informar que é caso de adaptação e relação com o meio e seus semelhantes, contradizendo o propalado QI, o coeficiente “ou quociente” de inteligência. Existem casos e casos, cada um a seu jeito e lugar. Daí a necessidade de sessões para análise e averiguação. Com a palavra, os especialistas.
Exemplo maior de que se tem notícia é o de Albert Einstein, autor da teoria da relatividade, fórmula tão batida quanto fácil de gravar: E=mc2. Os componentes envolvem diretamente a equivalência da massa e energia. Embora jamais tenha sido bom em física e em matemática infinitamente pior, esse princípio eu conhecia de cor e salteado pela prática da decoreba. Em síntese, a teoria trata da transformação da matéria em energia, devendo considerar o contrário como fonte verdadeira. Decorei, aprendi, passei.
Controvérsias há e bomba atômica de nipônico esquecimento idem, na meninice Einstein foi um desastre ecológico. Diziam até que não passava de um retardado mental, estranho no comportamento. Bizarro, por assim dizer. Na escala de um a dez, quando conquistava um “três” em testes escolares, era uma festa em sua casa. Posteriormente, pelo fenômeno dos milagres, que os próprios santos desconfiam, acabou por tornar-se o cientista mais famoso do mundo. Sacudiu o universo com suas ideias, um doutor na matéria, mais precisamente pela Universidade de Zurique, em 1905, na Suíça.
Nada disso tem valia para o que escrevo, a não ser por essa conveniente observação. Demonstrar, em absoluta ordem e sensatez, que o autor da mencionada teoria não foi um aluno modelo na infância. Pensavam até que sofresse de algum distúrbio mental. Para complicar, carregava consigo um problema na fala. E isso então foi óbice, obstáculo ou entrave para que Einstein chegasse até onde chegou? Irrelevante e desnecessária resposta.
“Ledo e quedo engano”, diria Eça de Queiroz, autor português de várias obras importantes, como “O Crime do Padre Amaro”, delito do qual – juro de pés juntos – não participei, nada sei e respeito os que dele dão notícia.
Mas estamos falando no físico alemão e não sobre o escritor lusitano. Einstein era repetitivo, maçante e chato. Não se comunicava bem com as pessoas. Mal sabia quando era hora de almoçar ou jantar. No entanto, por seus trabalhos na física e matemática, foi o personagem, segundo proeminentes colegas da área, o mais notável do mundo, tendo recebido, em 1921, o Prêmio Nobel de Física, ocasião em que, ao longo da vida, publicou obras científicas para o aclamarem como um gênio sem precedentes. E revolucionou a ciência de tal ordem que derrubou várias teorias dominantes da época. Estudou o cosmo, estabeleceu leis do campo eletromagnético, enfim, as bases da teoria dos fótons da luz e firmou ideias extraordinárias, como fizera outro gênio: Isaac Newton.
Na realidade, pouco interessa se Albert Einstein teve algo a ver com a criação da Bomba Atômica, como de resto não nos cabe aquilatar seus valorosos trabalhos científicos. O que se pretende são as informações de que não só o autor da Teoria da Relatividade Restrita (ou Especial), mas o cientista Isaac Newton, ambos sofriam da Síndrome de Asperger (SA), o conhecido autismo. Está certo que esse mal difere do autismo clássico. Mas, pelo que se sabe, existem distúrbios comprometedores no comportamento humano. Afetam a capacidade de socialização e comportamento interativo com as pessoas.
A divulgação impactante partiu da conhecida agência de notícias “Reuters”, fundada pelo alemão naturalizado britânico, Julius Reuters, levada ao conhecimento público através da mídia pelo fato de ser de interesse social. E existem portadores dessa síndrome em várias atividades humanas.
A doença foi descoberta no ano de 1944, por Hans Asperger, médico pediatra austríaco. Os sintomas são variados. Implica na deficiência cerebral e concorre, sobretudo, na interação do portador na vida social, porém não prejudica o intelecto e o saber, nos casos de Albert Einstein e Isaac Newton.
Por isso, vemos indivíduos aparentemente aparvalhados, esquisitos e, no íntimo, são autênticos gênios. Apenas preconceitos sem nenhuma razão de nossa parte. Não podemos prejulgar e avaliar o nosso semelhante pela simples maneira de viver e se comportar. De repente, sua “síndrome” pode nos surpreender e a nossa cara bater de frente no poste da imensa ignorância.
Portanto, os respeitos aos portadores das mais variadas síndromes, não importam quais sejam. São especiais ao extremo para receber de nós o amor, o carinho, a solidariedade e a ajuda de que precisarem. Quem desconhece isto: “Se enxerguei além dos outros, é porque estava no ombro de gigantes“, disse Isaac Newton. Não é uma frase solta, uma frase qualquer. Foi dita por um autista que se tornou célebre porque era especial e mais inteligente no mundo dos humanos.
A mensagem é fantástica: “O Princípio da Gravitação Universal e a Teoria da Relatividade podem ser frutos do intelecto de dois autistas”. E, por mais que a ciência e a tecnologia avancem, é para refletir, avaliar e celebrar as conquistas de ontem, hoje e sempre.
Tomemos como lição: “Se queremos alcançar o sucesso, é fundamental que não subestimemos a capacidade de outras pessoas”, especialmente se elas aparentam ser diferentes em qualquer aspecto. Querem saber? O ideal é não julgar nem a si e nem aos demais. A vida se encarrega de mostrar que julgamentos precipitados trazem desagrados e dissabores. A vida, entre amarguras e decepções tantas, nos oferece, ao nosso alcance, com entrega em domicílio, reservas especiais de surpresas gratificantes no campo do sucesso e realização.
LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)