BELO HORIZONTE – A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lançou na última terça-feira, 5, a cartilha “Violência Sexual: o que você deve saber”. O documento conta ainda com a participação do Comitê Estadual de Gestão do Atendimento Humanizado às Vítimas de Violência Sexual (Ceahvis), do qual fazem parte membros da Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), Polícia Civil e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese).
Segundo a SES-MG, a cartilha será um importante recurso para fortalecer o enfrentamento à violência sexual, com foco no estupro, mas menciona também outras extensões deste tipo de violência. O documento traz informações sobre os direitos da mulher, mudanças de comportamento da vítima, principalmente no caso de crianças e adolescentes, orientações de como proceder em episódios de violência sexual, detalhamento dos atendimentos especializados disponíveis e um guia para acessar serviços da rede de atendimento.
Segundo a especialista em Políticas e Gestão de Saúde da SES-MG, Laura Rayne Miranda Mol, a construção da cartilha foi iniciada há exatamente um ano e a ideia partiu do grupo de pesquisa da Fiocruz e da Diretoria de Gestão da Integralidade do Cuidado da SES-MG.
Segundo ela, as equipes identificaram a necessidade de levar informações claras sobre a violência sexual para a população, elencando os procedimentos para pedir ajuda e onde procurar esses serviços.
“Várias pessoas, principalmente mulheres e crianças, vivem num ambiente de violência doméstica, junto com o agressor, e não conseguem identificar que estão passando por uma situação de violência sexual, por naturalizar o ato”, apontou.
“Levamos essa demanda para o Ceahvis, com o objetivo de levantar a discussão de forma acessível à população. Tivemos grandes desafios porque, além da ausência de educação sexual, desde a infância, faltam informações sobre a prevenção. Em muitos casos, a vítima é culpabilizada pelo julgamento da sociedade e pelo histórico cultural de machismo, e isso gera o silenciamento, causado pelo sentimento de vergonha, que a impede de buscar ajuda nos serviços de atendimento”, explicou Laura.
De acordo com a especialista, depois de um episódio de abuso, o indivíduo deve ser acolhido e receber atendimento e orientações adequados nas unidades de saúde, em tempo oportuno, minimizando assim os impactos causados por esse tipo de violência.
Para Paula Dias Bevilacqua, uma das pesquisadoras da Fiocruz, a cartilha ressalta a importância de disseminar as informações para toda a população. “Ao longo da análise quantitativa da pesquisa feita para a elaboração da cartilha, percebemos alguns pontos negativos como a dificuldade em abordar o tema, o despreparo dos profissionais para abordagem das mulheres em situação de violência, fragilidades na atuação articulada em rede e o desconhecimento sobre a existência dos serviços especializados pela população em geral e por profissionais da rede assistencial, incluindo a saúde. Estou muito feliz por ter feito parte da construção de um produto que é fundamental e bastante doloroso como experiência para uma série de mulheres”, disse Bevilacqua.