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Sepultura anuncia fim da banda

8 de dezembro de 2023

Outra banda mineira que anuncia o fim através de uma turnê em 40 países em 18 meses./ Foto: Divulgação.

MÚSICA

Nesta sexta-feira, 8, o Sepultura anunciou o fim da banda com uma turnê de despedida. O influente grupo de heavy metal, que completa 40 anos de carreira, passará por quarenta países. Segundo a banda, a turnê Celebrating Life Through Death durará 18 meses e renderá um disco.

A turnê começará em Belo Horizonte, cidade de origem da banda, em 1º de março de 2024. Na primeira lista de datas brasileiras, estão também as cidades de Juiz de Fora (MG), Brasília (DF), Uberlândia (MG) e Porto Alegre (RS).

É a última turnê. A gente vai parar porque é o melhor momento da história da banda”, declarou o guitarrista Andreas Kisser, que reforçou que a banda tem boa relação. “Hoje, a gente tem uma condição fantástica entre a gente. A gente sai de cena tranquilo e em paz com a gente mesmo”. “Não é um momento triste, é de celebração”, disse.

Já o disco é um projeto ao vivo, que já começou a ser registrado. Segundo a banda, o álbum coletará quarenta músicas gravadas ao longo dos shows.

Para o crítico Pedro Só, é um fim ao estilo dos dinossauros, os do rock, sem meteoro ou catástrofes climáticas, mas com o anúncio estrondoso de uma última e grandiosa turnê — que, a história ensina, pode muito bem vir a ser a penúltima ou a antepenúltima.

Assim como Quincas Berro d’Água, o célebre personagem bebum de Jorge Amado, a banda mineira fundada em 1984 vai ficar na história por ter duas mortes. Duas ou três, considerando as saídas traumáticas do líder Max Cavalera, em 1996, e de seu irmão, o baterista Iggor Cavalera, em 2006. Nenhuma delas, porém, foi capaz de dar cabo do Sepultura.

Prevaleceu a viagem fantástica dos meninos que saíram de Minas para conquistar o mundo fazendo música extrema, sem concessões: black metal, death metal, depois thrash metal, groove metal e, na maior parte da trajetória, explorando um estilo próprio, com expansões, fusões e invenções, que fica melhor definido com o termo “Sepultura music”. Em vocais guturais, em inglês, entendidos ou não, fica o recado gritado pelos quatro cantos do mundo contra o autoritarismo de governos e religiões organizadas.

Nenhuma banda brasileira foi tão longe em popularidade, prestígio e capilaridade internacional, atingindo países e grotões globais onde nem mesmo a bossa-nova e o samba haviam ecoado. Mesmo ligado a uma subcultura alternativa e nichado em um gênero pouco palatável para o grande público, o Sepultura ficou famoso internacionalmente entre as “coisas associadas ao Brasil”, virou top of mind junto com samba, futebol e caipirinha.

A primeira formação da banda ainda não tinha Andreas Kisser, mas foi com o guitarrista que eles tiveram reconhecimento internacional. Da esquerda para a direita: Andreas Kisser, Igor Cavalera, Max Cavalera e Paulo Jr.

A história pode parecer um conto de fadas (com alguns acenos satanistas, é verdade): em apenas três anos, a banda formada por dois irmãos adolescentes, com letras em um inglês de Joel Santana “do mal”, conseguiu ter seu segundo álbum, Schizofrenia, lançado nos Estados Unidos. Mas o salto se deu sem milagres nem mágicas, veio a partir da articulação e da devoção da cultura underground pré-internet.