Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Aguardava a sua vez na antessala do consultório médico para ser atendido. Observou a paciente que acabara de passar por cirurgia estética facial. Ainda no corredor, parou, antes, diante do espelho, talvez para conferir e regozijar-se da etapa final da transformação obtida.
Caminhos e descaminhos da vaidade! A incessante busca pela beleza esplêndida! O que nem sempre acontece, aliado a um custo muito alto por tão sonhada harmonização estética.
Em seguida, não cabendo em si, sentindo-se a Rainha dos Deuses prestes a uma encenação hollywoodiana, ao passar pelo colega de espera, a moça vestiu-se de um largo sorriso e lhe perguntou o que achava de seu novo visual.
Perturbado com o que via, não sabia ao certo o que dizer. Transportou ao pensamento, em puro constrangimento, a máscara e a visão pavorosa do inferno. Da zona rural, aprendeu que, de nenhuma forma, se deve transgredir e banalizar a natureza. A natureza precisa de cuidados para a sua sobrevivência e manutenção. Julgava – de antemão – o seu caso era diferente. Ufa! Ainda bem! Apenas retirada de verrugas.
Por medida de contenção e delicadeza (sabe-se lá, boa educação), na conveniência da realidade, restringiu-se a não responder à pergunta embaraçosa que a moça lhe fizera. Fosse fazê-lo, na dura sorte, assim o faria, de maneira pouco ortodoxa e nada elogiosa: “Por que cargas d’água resolveram mudar a vulva de lugar?”.
Esse é o drama para os que vão entrar de cabeça, corpo e membros na onda do que hoje chamam de epidemia estética. É isso mesmo. Epidemia estética. Dizem os renomados dermatologistas: “Não é para dar espaço dissonante para os procedimentos abusivos e indiscriminados de preenchedores de ácido hialurônico”. (Luiz Perez, dermatologista e fundador do “Espaço Mira”, em São Paulo–SP)
A sugestão para aqueles que estão prestes a enfrentar tais procedimentos é saber do currículo do profissional para o tratamento estético, se o emocional está na conformidade do que há de vir pela frente e se haverá mudança para melhor, não se descuidando, por último e não menos importante, de ofender a saúde.
E em não havendo equilíbrio psicológico, por que motivo tomar rumos ignorados e desconhecidos e colocar a vida em risco? No jogo, problemas decorrentes que vão desde as intoxicações anestésicas a acidente vascular cerebral grave.
A beleza pode, sim, ser buscada, trabalhada, no popular, produzida. Mas e a compensação? A ajeitada no nariz, no bumbum, rosto, barriga etc., no parâmetro de segurança, haverá de certamente corresponder à busca do prazer e de se fazer bonito ou bonita? Quem pensa que homens não entram na fila erra feio.
Que se busquem então bons especialistas da área. É o indicado. Entretanto, reforçando, pertinente é passar, antes, por avaliação psicológica e testes situacionais. Dependendo do procedimento, em vez de se eliminar um problema, muito pelo contrário, buscam-se outros problemas, não raro, de caráter irreversível.
Entre o padrão de beleza e a saúde, vale a pena arriscar e ainda pagar caro pelos procedimentos? O bom senso revela que não. Assim, todo o cuidado é pouco, mocinhas e mocinhos!
Lembrando que há casos e casos. Entre viver com rugas e morrer, melhor deixar quieto as rugas físicas, a fim de que as fibras internas de sustentação melhorem substancialmente a beleza interna.
Que tal? É isso mesmo. Na dúvida, entre rugas e rusgas, deixem as rugas físicas no seu devido lugar e parem de arrumar complicação para o judiciário, que tem muito, mas muito mais o que fazer!
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)