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Rindo da própria desgraça

A trama explora uma família disfuncional, contando a história do amor de uma mãe por sua filha./ Foto: Divulgação.

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A expressão em inglês ‘rain dog’ é pouco conhecida e muito literal. Traduzida para o português, significa cachorro na chuva e é usada para todas as pessoas que estão em uma situação ruim que precisam de ajuda, que precisam ser tiradas dessa tempestade. Nessa ideia da expressão, a autora Cash Carraway, conhecida pela série de livros Skint Estate, estreia como roteirista e criadora no seriado Rain dogs, uma produção que mostra uma perspectiva crítica e bem-humorada das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. A série estreia no início desta semana na HBO Max.

A série acompanha Costello (Daisy May Cooper), uma mãe capaz de tudo para dar o melhor que pode para a filha. Na falta de recursos, ela se junta a Selby (Jack Farthing), um homem homossexual que nasceu em uma família rica, mas se afastou e vive em dificuldades. Juntos, eles criam a própria família, pouco usual, um tanto disfuncional, mas a melhor opção para as condições que estão vivendo.

A série, no entanto, propõe um olhar bem-humorado sobre as situações, sem esconder a gravidade e as dificuldades da vida na pobreza. “Eu experienciei a pobreza e realmente parece que alguém deu uma voz interessante para essas pessoas. Não é sempre obscuro, às vezes é engraçado, até na vida real”, conta Daisy May Cooper. A atriz e roteirista, que ficou conhecida por fazer parte de comédias aclamadas no Reino Unido, exalta o ponto de vista da criadora da série. “Ela é uma das escritoras mais magníficas com quem já trabalhei. O que eu mais amei do roteiro é que eu não senti que era uma romantização da pobreza”, elogia a artista.

“As coisas são tão sombrias, que, às vezes, o que resta é rir.” Assim Daisy defende que há como encontrar comédia em um drama sobre pobreza. “O coração da série é encontrar comédia mesmo no mais obscuros dos momentos”, complementa Jack Farthing. O ator analisa que o humor britânico tem esse traço mais rebuscado, mas que a história de Rain dogs é universal. “Pode parecer uma coisa britânica, mas viaja entre culturas. Em todo mundo há pessoas passando por coisas difíceis. Tratar isso com bom humor é uma forma de humanizar e dar um respiro na dificuldade da vida real”, reflete o intérprete. “Rir é e sempre será vital, e essa série lembra as pessoas disso”, conclui.

Para ambos os atores principais, a produção acerta ao dar voz para esses cachorros na chuva. “Esses personagens, assim como os cachorros, ainda estão na chuva. São pessoas que não sabem como é o sentimento de serem amadas. Como cachorros resgatados, são muito desconfiados de tudo”, explica Daisy.

A comédia que toca a realidade pode fazer uma crítica muito mais acessível e potente para o público, e Rain dogs tem essa intenção. “Todo mundo é, de certa forma, um cachorro na chuva, e mesmo essa categorização é irrelevante porque as experiências são muitas e individuais. Esse seriado quer tocar nisso, surpreender o público e mostrar que as pessoas que estão abaixo da linha da pobreza não devem ser generalizadas, é necessário ser específico”, avalia Farthing.

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