Ataíde Vilela
A reconstrução da infraestrutura de nossa região por FURNAS não é apenas justa, é uma necessidade imperativa. Conheço profundamente a história dos 34 municípios que tiveram suas terras mais férteis submersas pelas águas do Lago de Furnas, o Mar de Minas, e das 7 cidades impactadas pelo Lago de Peixoto. Passados mais de 65 anos desde as construções das usinas de Furnas e Peixoto, e diante do processo de privatização de Furnas, é inaceitável que a reconstrução dessas infraestruturas essenciais continue sem solução.
Durante décadas, esses municípios não apenas perderam receitas significativas devido à vasta extensão de terras férteis submersas, mas também sofreram impactos econômicos, ambientais e sociais profundos, que empobreceram drasticamente suas economias. A submersão de aproximadamente 144 mil hectares, resultou não apenas em perdas consideráveis de produtividade agrícola, mas também na destruição de infraestruturas vitais para a vida cotidiana e o escoamento da produção. Casos como o isolamento dos cidadãos de Delfinópolis, Guapé e comunidades rurais como Santo Hilário-Pimenta são exemplos gritantes. Antigas ligações, como a Ponte do Surubi entre Delfinópolis e Passos, e a Ponte dos Lemos, que conectava Guapé e Santo Hilário a São José da Barra e à região de Passos, hoje permanecem inutilizadas e submersas.
É justo que essa situação persista? Evidentemente, que não. Diante da Lei de Desestatização de Furnas/Eletrobras, o mínimo que se espera é que a justiça seja finalmente feita com esses municípios. Principalmente agora que recursos financeiros estão disponíveis e sendo depositados anualmente, totalizando R$2,3 bilhões. Recentemente foi anunciado um investimento de R$340 milhões para a região do Lago de Furnas, que deverá ser aplicado em obras de saneamento básico, recuperação de áreas degradadas e nascentes de 50 municípios, situados no entorno deste imenso reservatório. É um avanço, mas, ainda pouco significativo, se levarmos em consideração, os danos e prejuízo que foram provocados nos municípios de nossa região.
Acredito que a utilização desses fundos, prevista na Lei de Desestatização, está em plena consonância com os propósitos de mitigação e compensação para todos os municípios afetados, muito embora, sejam bastante tímidas e distantes dos danos provocados em nossa região. Acredito, por isso mesmo, firmemente que todas as obras de infraestrutura necessárias em nossa região deverão ser incluídas, contempladas nesta Revitalização das bacias de Furnas e realizadas como: a ponte que ligará Delfinópolis a Cássia(compensando a ponte do Surubi), a ponte que ligará Guapé a São José da Barra(repondo e substituindo a antiga ponte dos Lemos), o asfaltamento da BR-146, em toda a sua extensão – nos trechos de São João Batista do Glória até Delfinópolis, de Delfinópolis até Sacramento, e do Glória até a Barra.
E em relação ao Lago de Peixoto? Não há investimento algum até o momento para as 7 cidades e dezenas de outras lindeiras ao reservatório de Peixoto, situadas na mesma bacia hidrográfica de Furnas. Mas, de forma paradoxal, já foi anunciado um investimento de R$300 milhões, para retirada de pedras(derrocamento) submersas em 16 km, do canal de Avanhandava, situado na hidrovia do rio Tietê. Isto, não representa e nem traz benefício algum para nossa região. Acredito que os municípios de nossa região, apesar de estarem localizados numa das mais importantes bacias hidrográficas de Furnas e, que sofreram fortes impactos sociais, econômicos e ambientais, foram preteridos e não vêm sendo contemplados, de forma justa e adequada.
É preciso priorizar a infraestrutura de cidades de nossa região, localizadas no Lago de Peixoto, e de outras como de Marimbondo, de Porto Colômbia, de Itumbiara, de Serra da Mesa, ao invés, de aplicar recursos nesta Hidrovia do Tietê. Isso é o mínimo que deveria esperar e o que realmente deveria estar sendo realizado – mitigando e compensando de forma justa e necessária as perdas sofridas por nossas cidades.
Ataíde Vilela, engenheiro civil, foi prefeito de Passos nas gestões 2005/2008 e 2013 a 2016