BELO HORIZONTE – A receita com exportações de café de Minas para a China aumentou subiu de US$ 20,5 milhões, em 2019, para US$ 250 milhões em 2023, com alta de cerca de 1.120%. Segundo informações do governo mineiro, o volume embarcado passou de 135 mil para 1,2 milhão de sacas no período.
O crescimento do volume exportado veio acompanhado do aumento no preço da saca de café – foram 40% de valorização nos últimos cinco anos, comprovando a boa aceitação do produto mineiro no mercado chinês, segundo a Agência Minas.
Para cafeicultores como Allan Botrel, da Fazenda Monjolo, em Três Pontas, esse cenário é animador. Com uma trajetória de cinco gerações na produção de café, Alan já se envolveu em todos os pontos da cadeia de produção, investiu em conhecimento e hoje atua não só na gestão da fazenda, mas também na área de exportação da Cooperativa dos Produtores de Cafés Especiais Santo Antônio Estate Coffee Ltda (Sancoffee).
A Fazenda Monjolo exporta desde 2017. O mercado chinês ainda não é o mais representativo dos clientes de Allan Botrel, mas ele confirma que houve um forte crescimento. Para o cafeicultor, uma das vantagens do café mineiro para se destacar no exterior é a rastreabilidade, especialmente pela vinculação com a preservação do meio ambiente.
“É algo fortemente demandado por esses mercados, uma oportunidade de agregar valor. Neste sentido, os programas do governo do Estado, como o Certifica Minas, contribuem significativamente para a adequação das propriedades, maior segurança para o produtor e maior confiança para os mercados consumidores”, analisa.
Apoio da certificação
A extensionista agropecuária da Emater-MG em Três Pontas, Lívia Martinez, explica que a primeira coisa que o cafeicultor precisa se perguntar quando decide exportar é “quem vai me auxiliar no processo?” e por isso é importante ele contar com traders e cooperativas, além da assistência técnica. Para enviar o café para o exterior, Lívia explica que o requisito principal é a segurança fitossanitária. “O café tem que ser seguro e com identificação de origem, seguindo normas e legislações internacionais”, reforça.
Ela cita o apoio que o Certifica Minas Café dá aos agricultores que querem alcançar esse patamar. “O programa vai incentivar principalmente o agricultor familiar e o pequeno produtor que tenta se inserir no mercado. Ele vai se tornar mais competitivo e conseguir agregar valor em todo o processo produtivo. É feito um diagnóstico inicial da propriedade para orientar uma mudança de mentalidade na fazenda como um todo, para ele conseguir se organizar conforme a legislação. São práticas que vão desde o cuidado com o meio ambiente até o cuidado com a saúde do agricultor e sua familia”, detalha.
Para o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Thales Fernandes, o reconhecimento da qualidade do café produzido em Minas Gerais por um mercado do porte da China é uma importante porta aberta para mais relações comerciais.
“Esses números tão expressivos para o café fazem com que outros mercados vejam que temos qualidade, infraestrutura e segurança para suprir outras demandas de alimentos para o mundo todo. É uma vitória do comprometimento do produtor, em conjunto com o trabalho sério do Governo de Minas para apoiá-lo em todas as etapas até fechar o container”, avalia.
Evolução
A China sempre comprou café de Minas Gerais, mas houve um crescente a partir de 2018 e um salto após a pandemia. Em 2019, o país ocupava a 21ª posição como destino das exportações mineiras de café, enquanto, em 2023, subiu para a 8ª posição.
Este ano, o ritmo das exportações para o país asiático também segue forte. Entre janeiro e setembro de 2024, as exportações contam com receita de US$ 134 milhões, com envio de 627 mil sacas. “Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o aumento foi de 35% no valor e 23% na quantidade embarcada”, resumiu a assessora técnica da Superintendência de Inovação e Economia Agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Manoela Oliveira.
Do chá para o café
aumento do consumo de café pelo país asiático também tem um componente cultural. O gosto pelo café, entre uma população tradicionalmente apreciadora de chá, vem sendo introduzido no país pelos jovens, especialmente as mulheres. São pessoas que, muitas vezes, trazem o hábito de tomar café do exterior. Atualmente, estima-se que um quarto da população da China, ou seja, 330 milhões de pessoas, consome café, conforme dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Prova desse interesse foi o acordo assinado pelo Brasil com a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee, a principal importadora de café brasileiro no país asiático. A parceria prevê a compra de cerca de 120 mil toneladas de café brasileiro pela rede, que conta com mais de 16 mil lojas apenas na China. As cifras alcançam cerca de U$ 500 milhões. A empresa também se comprometeu, por meio do documento, a “promover e comercializar ativamente o café brasileiro para seus clientes e parceiros”.