por Pedro Rousseff
“Afinal, Catilina, até quando abusarás de nossa paciência? Por quanto tempo esse teu furor ainda zombará de nós? Até que ponto tua audácia sem freios se voltará contra nós?”. A pergunta imortalizada por Cícero, em sua denúncia contra a conspiração de Catilina na Roma Antiga, poderia perfeitamente ser feita hoje à família Bolsonaro. Até quando, afinal, os brasileiros suportarão em silêncio as investidas sistemáticas contra a democracia, o Estado de Direito e, agora, contra a soberania nacional?
Nas últimas semanas, a imprensa brasileira vem noticiando as constantes investidas do deputado federal Eduardo Bolsonaro frente ao governo dos Estados Unidos, com o propósito declarado de pressionar o governo de Donald Trump para que adote sanções contra o Brasil. É difícil imaginar uma conduta mais escandalosa vinda de alguém que jura fidelidade à pátria ao assumir um mandato parlamentar. Trata-se de um gesto gravíssimo que atenta diretamente contra os interesses nacionais.
Como bem apontou o renomado advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, em entrevista recente, ao tentar jogar os Estados Unidos contra o Supremo Tribunal Federal, Eduardo Bolsonaro não apenas ultrapassa todos os limites da convivência democrática: ele incorre em crime. Um crime, segundo o próprio Kakay, que deveria ser tratado com o devido rigor da lei.
De fato, a conduta do deputado pode se enquadrar no Art. 359-I do Código Penal Brasileiro, incluído pela Lei nº 14.197/2021, que versa sobre crimes contra o Estado Democrático de Direito. Diz o artigo: “Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo: pena – reclusão, de 3 a 8 anos”. Ora, o que é uma sanção econômica imposta por uma potência estrangeira senão um ato típico de guerra, ainda que sem armas?
Um agente público — especialmente um deputado federal — jamais poderia agir no exterior contra os próprios interesses de seu país, estimulando retaliações que atingiriam diretamente o povo brasileiro. É um escárnio que alguém que passou os últimos anos se dizendo patriota agora se mostre disposto a prejudicar o Brasil em nome de sua guerra pessoal contra as instituições republicanas.
Não se trata de censura, como alegam seus aliados quando são confrontados com a responsabilização legal. Trata-se de defesa da ordem constitucional. A família Bolsonaro tem abusado da nossa paciência e testado, uma e outra vez, os limites da democracia brasileira — ora atentando contra o sistema eleitoral, ora insuflando atos golpistas, ora tentando deslegitimar o Supremo Tribunal Federal e agora até buscando apoio estrangeiro para impor sua agenda.
A resposta que se impõe deve ser política e definitiva. Em 2026, o povo brasileiro terá a oportunidade de renovar, com ainda mais firmeza, seu compromisso com a democracia, com a Constituição e com a soberania popular. O que está em jogo não é uma disputa entre esquerda e direita — é a integridade da nação diante de uma elite autoritária que não sabe perder e não respeita as regras do jogo.
Chega de afrontas. Chega de ameaças. Chega de Bolsonaro.