Opinião

Questões religiosas do Brasil 

20 de abril de 2024

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS

Um breve panorama histórico das religiões no Brasil nos mostra claramente a evolução de um processo de politização religiosa que está levando o país a uma polarização perigosa. A história religiosa do Brasil começa a mudar com o processo da colonização portuguesa através da catequese dos jesuítas se intrometendo nas religiões das nações indígenas e nas religiões dos negros escravizados que tiveram que adaptar suas crenças de origens africanas ao catolicismo. Fim da Colônia veio a monarquia que durou de 1822 a 1889. A Igreja Católica se firmou como religião única e oficial da Monarquia. O Brasil já teve uma monarquia teocrática, ora vejam! Fim da Monarquia e início da República, outro ciclo religioso se iniciou no Brasil.

Neste texto de curto espaço, vou tentar analisar o processo de afirmação do evangelismo em um país de domínio de uma só religião por quase quatro séculos. No entanto, podemos afirmar que nos anos iniciais da República, a Constituição de 1891, tornou o Brasil um país laico abrindo as portas legais para as congregações e igrejas protestantes ou evangélicas tais como os presbiterianos, batistas, luteranos, Assembleia de Deus, metodistas, adventistas, neopentecostais e outras tantas e diferentes confissões religiosas. Enfim, em pouco mais de um século transformou o Brasil num imenso paraíso plurireligioso.

A trajetória das religiões protestantes ou evangélicas até meados do século XX não foi tranquila, mesmo com a Constituição Republicana garantindo o laicismo. A Igreja Católica plenipotenciária acostumada com as pompas e circunstâncias do poder adquirido na monarquia, continuou durante o período da República Velha (1889 a 1930) com muita influência tanto no governo central, como por todos os rincões do país. E com isso insuflou perseguições aos protestantes, inclusive com queimas de templos, aqui mesmo em nossa cidade aconteceram por essa época tais truculências contra os presbiterianos. Mas, como diz o ditado, são águas passadas que não mais movem moinhos. Por outro lado, com o surgimento das diversas denominações evangélicas no país, especialmente das neopentecostais, houve um vertiginoso aumento de evangélicos, alcançando hoje em torno ou próximo de 25% da população, com previsões para se igualar ao número de católicos até 2050. Fatos que colocam em evidência o evangelismo, tanto no plano socioeconômico quanto político. Se os evangélicos ficaram sem nenhum protagonismo político no Brasil por um século, hoje não se pode mais ofuscar ou desprezar este contingente religioso. Estão presentes em todas as esferas dos poderes da nação com participação efetiva e abrangente na política nacional. Inclusive até com bancada evangélica na Câmara Federal.

Mas e a tal polarização perigosa? Deve-se levar em consideração que o fato de muitas denominações evangélicas terem entrado de cabeça em apoio ao ex-presidente Bolsonaro e, portanto, adotando ou concordando com a linha ideológica de extrema direita, realmente ensejou uma polarização ideológica-religiosa. Mas não se pode generalizar e colocar no mesmo balaio todos os evangélicos da nação. Este é um crasso equívoco em que alguns setores progressistas-esquerdistas estão cometendo ao irem além das críticas com ataques até com zombarias e desrespeitos ultrapassando a barreira política e atingindo a crença religiosa dos evangélicos em geral. As críticas devem se ater apenas aos comportamentos político-partidários e não às crenças de nenhuma religião. Por outro lado, as igrejas ou denominações evangélicas que estão abrindo as portas de seus templos, para transformar cultos em comícios políticos, saibam que estão ultrapassando a barreira religiosa e, portanto, alimentando a polarização ideológica. E neste caso, se torna inevitável o ônus das críticas. Está comprovado pela história que quando se usa da religião para almejar poder político, os postulados da fé ou crenças ficam em segundo plano e sempre acabam em ditaduras teocráticas.

ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História