12 de fevereiro de 2025
Washington L. Tomé de Sousa
Posso estar equivocado, ou até mesmo deslocado no tempo ou, ainda, exagerando, mas me parece que em gerações anteriores ao do advento da internet, das redes sociais, da presença das tecnologias da informação em todos os ramos da atividade humana como estamos experimentando, que a vida era conduzida mais pelo senso de dever, de obrigação, que pelo sentimento de direito a tudo e a qualquer coisa que atualmente inunda a sociedade.
Lembro-me que, quando crianças, éramos ensinados pelos pais e pela Escola dos nossos deveres domésticos (arrumar a cama ao acordar, lavar a louça que sujou, comprar pão na padaria, fazer o dever de casa…, para, só então, sair para brincar – “Primeiro a obrigação, depois a diversão”), do respeito aos mais velhos, ao direito alheio, da obrigação de fazer sempre a coisa certa, de respeito à pátria e aos seus símbolos, dentre tantos outros preceitos que nos eram incutidos ao longo do nosso crescimento, e que, via de regra, carregamos para a vida toda. Claro, uns mais, outros menos e, alguns, de forma alguma. Talvez esta seja uma manifestação simplista e limitada de visão da sociedade em uma época passada, objetarão alguns – com o que concordo e já digo que não pretendo aqui, com este singelo artigo, apresentar um estudo sociológico sobre o tema. Apenas um olhar localizado.
Éramos, décadas atrás, uma sociedade conservadora (talvez nunca tenhamos deixado de ser), fechada em si mesma e para o mundo, habituada a um cotidiano sem grandes inovações ou desafios (a não ser as sucessivas crises econômicas e políticas que sempre nos acompanharam), com muitos sonhos sobre o futuro (“O país do futuro” – Stefan Zweig, 1941 – que acabou suicidando-se – seria uma autoprofecia?) e pouca informação (“um deserto de homens e ideias” – Oswaldo Aranha, 1940 – será que mudou alguma coisa, hoje?), situação que começou a se transformar após o fim do regime militar autoritário, em março de 1985, iniciando-se o processo de abertura política, com seus reflexos em todos os aspectos da sociedade. A partir daí, com a promulgação da nova Constituição Federal em 1988, iniciou-se um movimento de restauração e ampliação de direitos em todos as áreas, que prossegue até os dias atuais, mas que, como um pêndulo que alcança o seu limite de deslocamento para um lado, já começa a sofrer resistência e deslocar-se em sentido contrário.
Como em quase tudo, a vida se desenvolve em movimento pendular, em um processo de tese, antítese e síntese (Hegel), onde a “síntese é o momento em que as afirmações da tese e da antítese se associam para chegar a uma conclusão”. Conclusão esta almejada e que, diante da ‘pandemia’ de polarização que permeia o nosso cotidiano. se não atenda a todos, satisfaça à maioria.
Se, anteriormente, vivíamos sob o governo da obrigação e do dever (ditadura?) e hoje, os direitos (liberdade?) procuram se ampliar em profusão, muitos sem contrapartida na responsabilidade – alguns até inimagináveis anteriormente, como o de “sentir e portar-se como um animal qualquer”, necessitamos, com urgência, encontrar a síntese entre direitos e obrigações, mormente em face da sociedade extremamente conflituosa e hostil em que nos tornamos. A vida agradece.
Saúde e paz a todos!
Washington L. Tomé de Sousa (@reflexoeswashington – Youtube / Washington Tomé de Sousa – Facebook) advogado, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna.