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Quanta vida cabe em um domingo?

ANA CÂNDIDA LEMOS DE MELLO CARVALHO

Quanta vida cabe em um domingo? Quantas decisões, quantas mudanças, quantas lembranças? Quantos hábitos triviais, criados ao longo de domingos e repetidos por anos a fio? Quantas recordações inesquecíveis, quantos amores, quantos membros da família, quanto sofrimento?
É essa a investigação de Ana Lis Soares em seu livro de estreia, “Domingo”, lançado em 2021 pela editora Instante.
O livro é dividido em capítulos que trazem o nome e a história de sete mulheres diferentes. Domingo é o dia em que as histórias acontecem, o fio condutor da narrativa. Embora os capítulos possam ser lidos de forma autônoma, as vidas das personagens vão se entrelaçando, graças às mãos caprichosas do destino.
Na introdução, a autora nos explica:
“Embora sejam apenas miudezas, já adianto, não sou narradora de grandiosidades. O que conto são detalhes, fracassinhos cotidianos ou alegriazinhas escondidas em pensamentos que surgem do estômago. A graça vem em forma de susto
– e já passou.
(Pessoas e seus mistérios, é essa a minha matéria).
(…) Ou, talvez, sejam apenas travessias por memórias inventadas, travessões da vida, sentimentos abandonados em caixas de papelão”.
A narrativa nos remete ao poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade, abordando as dificuldades e desencontros dos relacionamentos, a solidão do sujeito no mundo e sua dificuldade em estabelecer laços com aqueles que o rodeiam.
A primeira personagem, Beatriz, é mãe de Amanda, médica, com quem tem uma relação extremamente conflituosa. Aos poucos, vamos descobrindo as razões de uma e outra para o conflito e acompanhando as tentativas de dissipar o mal estar dessa relação.
Barbara, a segunda personagem, é filha adotiva e artista. Seu encontro com José faz com que se sinta em casa. Em uma carta que deixa para ele, Bárbara escreve: “Que a gente que é mulher nasce assim, com peso no peito, com culpa no corpo, com um rio inteiro a transbordar na alma, e a gente segura, José, segura a travessia de si, nossas margens esparramadas em nós, nos outros; esparramamo-­‐nos. E há tanta força em ser, José, há tanta violência, tanta beleza, que o que a gente quer é gritar, gritar para o mundo: vejam como sou forte! Vejam como sou linda e muita, muita! Eu me transbordo de mim, vejam!”.
Já Sofia, grávida do primeiro filho, almoça com seu melhor amigo e rememora sua relação com o pai, Carlos – que também é pai de Amanda. Ela se lembra do pai como alguém misterioso e triste e se ressente de saber tão pouco sobre ele. Enquanto espera seu filho nascer, escreve um diário no qual registra suas memórias e se pergunta: “Inventamos memórias para preencher espaços vazios? Idealizamos pessoas que amamos para adorá-­las sem perguntas?”.
Isabella, personagem bem mais jovem, nos mostra que a sensibilidade não tem idade e surpreende quando consegue verbalizar o sentimento que permeia seu domingo na casa da avó:
“-­Vó, você já sentiu saudades de alguma coisa quanto ela ainda estava acontecendo? Quando ainda não tinha acabado?
-­Hummm…Algumas vezes, muitas vezes. Eu acho que isso é como…flagrar a felicidade. Acho que só quem é feliz sente saudade, no fim das contas”.
A autora nos apresenta, ainda, Omolara, que é tia de Abayomi e terapeuta de Antônia, que por sua vez é irmã de Ernesto, que trabalha para Albertina, sogra de Carolina. Descobrimos que Carolina é noiva de Eduardo, irmão de Sofia, mas questiona o modo como essa relação acabou por ocupar toda a sua vida, deixando-­a sem espaço para outras relações.
Ao narrar as histórias dessas mulheres, construindo personagens complexas e tão distintas, Ana Lis nos intriga, nos emociona e nos faz acreditar em um mundo melhor, mais feminino e, por isso, mais humano.


Ana Lis nasceu em Passos em 1989 e é filha da jornalista Arlete Porto e do escritor Marco Túlio Costa. Em 2012, formou-­se em Jornalismo na Unesp (Bauru, SP) e trabalhou por seis anos nas redações da revista Pais & Filhos e dos portais de notícias Terra e iG, como repórter e editora, percorrendo editorias como Política, Economia, Internacional, Educação, Saúde e Ciência. Trabalha como autônoma desde 2019, produzindo conteúdo sobre livros e literatura em redes sociais (Instagram e Youtube). Selecionado no edital ProAc de 2020, Domingo é seu primeiro livro publicado, dando voz a personagens que acompanham a autora desde os seus dezessete anos.
O livro “Domingo”, de @analissoares, tem capítulos com nomes e histórias de 7 mulheres diferentes, cujas vidas se entrelaçam, graças às mãos caprichosas do destino. Domingo é o dia em que as histórias contadas acontecem, o fio condutor da narrativa.

Neste sábado, dia 04.03, às 17h, Ana Lis estará na Livraria da Praça, em Cássia, falando sobre o livro e autografando. Não percam!

ANA CÂNDIDA LEMOS DE MELLO CARVALHO, cassiense, mora em São Paulo e é advogada e sócia da área de infraestrutura e regulação do BMA Advogados. Ela é mestre em direito público pela PUC-SP, é professora do MBA em Infraestrutura da PUC-MG. É autora de alguns livros e muitos artigos na área do direito, publicados em revistas nacionais e internacionais, sua atuação como advogada especialista em direito público é reconhecida pelos principais rankings internacionais, como Chambers & Partners, Latin Lawyer e IFLR 1000 e Legal 500.

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