O medo de mimar demais um filho deixa muitos pais sem saber o que fazer e passíveis de cometer certos erros. Recordo-me de uma situação vivenciada em nossa casa, quando nosso primeiro filho ainda era bebê.
Certo dia, pedi a meu esposo que largasse um pouco o menino, pois já estava com ele a certo tempo no colo. Na minha inexperiência e tendência de simplesmente repetir o que havia ouvido na minha educação, eu temia que nosso filho ficasse mimado.
Então, meu esposo, com a sabedoria e segurança de filho criado com todo apego de uma família mineira bem “grudenta”, disse-me: “Fica tranquila! Colo não deixa criança mimada!”. Não entendi muito na hora, mas acolhi e, então, fui aprendendo com a vida, com leituras e estudos, que meu esposo tinha toda razão. Afeto, colo e carinho não mimam criança. Afinal, o que é, então, mimar?
No dicionário on-line encontrei: “Tratar com carinho excessivo, satisfazendo todos os caprichos e vontades”. Aí está uma palavrinha chave: “excessivo”. Nada pode ser em excesso na nossa vida! A virtude está no equilíbrio, portanto, os pais devem sempre buscar essa têmpera na hora de educar. Existem escolhas da criança que, a partir de uma idade, é importante que saibamos respeitar.
É saudável que o filho, a partir de uma idade, como os três anos por exemplo, já possa escolher a camiseta que vai vestir; e você não estará mimando seu filho se deixar ele vestir a azul, mesmo que você queira que ele use a verde para combinar com a bermuda; ao contrário, você o está ajudando a ser uma pessoa capaz de fazer escolhas futuramente.
Por outro lado, existem situações onde a vontade dos pais precisa imperar, não por uma questão de autoritarismo, mas por autoridade de quem sabe o qual é o melhor a ser feito naquele momento. Por exemplo: seu filho insiste em comer um segundo chocolate após vocês terem combinado que seria apenas um. Nessa hora, é preciso da firmeza dos pais em manter o combinado, ou seu filho saberá que bastará insistir um pouco e sempre conseguirá o que quer. Isso é mimar!
A criança quer comer a sobremesa antes do almoço, e começa a fazer birra; então, para não desapontar seu filhinho nem piorar a manha e a choradeira, você deixa ele comer o tal doce e acabar com o apetite do almoço. Isso é mimar! A criança vê um brinquedo numa vitrine e começa a pedir, chorar e espernear, mas vocês, naquele momento, não têm condições financeiras nenhuma de comprar o brinquedo, mas, para agradar, vai lá e faz uma dívida, realiza a vontade de seu filho. Isso é mimar! O mimo é a bajulação, a tentativa, muitas vezes, frustrada dos pais, de darem ao filho até o que não podem e fazerem todas as suas vontades. Isso estraga um ser humano.
Por outro lado, dizer ‘não’, criar regras e explicar o porquê de certas proibições vai gerando entendimento (mesmo com algumas birras) e gerando disciplina. Isso é educar com responsabilidade e amor, porque não penso somente no agora, mas nos comportamentos futuros do meu filho e no ser humano que espero que ele se torne, não para me agradar, mas para ser um bom homem, uma boa mulher, para ser feliz e contribuir com o bem-estar da sociedade.
Ninguém cresce e amadurece quando todo os seus caprichos e vontades são satisfeitos. Ninguém pode ser educado assim. Todos precisam passar por frustrações, pela experiência do ‘não’ para adquirir equilíbrio, limite e maturidade. Para mim, como mãe, existem dois pontos que não podem faltar na educação dos filhos: afeto e disciplina.
Nos primeiros meses de vida, diria os dois primeiros anos, muito afeto, muito colo, beijo e abraço, pois isso estabelece vínculo entre os filhos e os pais, e essa conexão é importantíssima no desenvolvimento da criança. Filho precisa conhecer o cheiro da mãe e vice-versa. Nossos filhos reproduzem nossas atitude, portanto, se o que damos a eles são atitudes de amor e carinho, é isso que reproduzirão com a família, os parentes, os amiguinhos e colegas da escola.
À medida que os pequenos vão crescendo, precisam aprender a ter disciplina, sem deixar de lado o afeto. Filho precisa e tem necessidade de saber até onde pode ir, qual é o seu limite, e quem estabelece e ensina isso são os pais. Afeto e disciplina trazem segurança emocional e afetiva. O filho que sabe que pode contar com o pai, que pode correr para o colo da mãe, que os tem por perto para quando precisar, cresce seguro de si e de seus sentimentos.
Já aquele que nem sempre tem o afeto dos pais, mas foi “comprado” afetivamente por pais que sempre cederam às suas vontades, crescerá com uma lacuna enorme e com a constante necessidade de ser amado e aprovado, de ter sua vontade e opinião aceita a qualquer custo.
Mimar é também um jeito de amar, mas de um jeito errado. Nenhum pai mima o filho por maldade, mas é verdade que muitos, ao querer acertar, acabam errando. Mimar é aquele cuidado sem medida, o agrado excessivo, que priva o filho da possibilidade de lidar com a decepção e gera nele o egocentrismo.
Já o amor inclui frustração e limites, e é nesse amor que a criança aprende que ela não é a única no mundo, que existem outras pessoas em casa, na família e na sociedade, que também são importantes, ensina a criança a retribuir amor, a ser grata e saber até onde pode ir para não se machucar nem machucar os outros ao seu redor.