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Provérbio mongol

Foto: Reprodução

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO

 

“O néscio ataca os defeitos dos outros como um falcão, mas se assenta sobre os seus como a choca sobre os ovos.” O falcão é um pássaro de caça. Violento. Todos conhecemos a galinha choca, lentíssima para sair do ninho. A comparação é boa: atacamos os defeitos dos outros com violência e rapidez, mas somos benevolentes com nossos erros. Há um provérbio boêmio que diz a mesma coisa: “Para os erros alheios temos olhos de lince, para os nossos próprios, os olhos de toupeira”. Jesus enfrentou a mesma mania, quando perguntou: “Por que vês o cisco no olho do teu irmão e não vês a mesma trava no teu?” (Mt 7,3). Não diz a mesma coisa Jesus quando manda amar o próximo como nos amamos a nós mesmos? (Mc 12,31).  – Frei Clarêncio Neotti, OFM, folhinha do dia 19 de junho de 2024, quarta-feira, do calendário “Sagrado Coração de Jesus”, da Editora Vozes Ltda., de Petrópolis, RJ; e-mail: cneotti@yahoo.com.br

Estamos diante de um novo provérbio colhido pelo frei. Ele foi buscar um provérbio mongol. A Mongólia fica na Ásia Oriental e Central. Não tem costa marítima. Ela faz fronteira com a Rússia e com a República Popular da China. É, portanto, um país asiático.

O néscio, é aquele cidadão desprovido de conhecimento, que não sabe discernir, às vezes até estúpido e ignorante mesmo, incoerente, que não produz nenhum sentido nas suas falas ou ações. Ele chega às raias do absurdo, muitas vezes, quando se enchendo de razão só consegue enxergar defeitos nos outros. Nunca tem coragem para observar os seus próprios defeitos. Quem é que não tem defeitos? Acredito que todos nós os temos. Alguns mais, outros menos! Qualidades nós todos temos e vale o mesmo, alguns mais outros menos. O professor e filósofo Aloysio Ivo Urnaw, de Campinas, SP, na TV Câmara Federal em 04.11.2001, proferindo a palestra “Vença o Medo e Conquiste a Autoconfiança”, diz que nós temos no mínimo cinquenta qualidades. No mínimo, disse ele. Significa que possamos ter até mais. É preciso relacioná-las com critério e honestidade.

O frei compara a atitude do néscio, quanto a enxergar só defeitos nos outros, à galinha que ao chocar os seus ovos, ela o faz lentamente e demora para sair do ninho. Ele considera boa a comparação, pois não se perde tempo para atacar os defeitos alheios, mas se ignora totalmente os próprios defeitos. Atacar os defeitos dos outros com maldade, perversidade, é atitude que se toma rapidamente e sem nenhum escrúpulo. Verificar e tentar analisar os próprios defeitos é atitude que passa longe de uma provável possibilidade. Nem pensar!

É citado, também pelo frei, um provérbio que ele classifica como boêmio que diz: “Para os erros alheios temos olhos de lince, para os nossos próprios, os olhos de toupeira”. O lince é um animal felino existente em regiões frias do hemisfério norte. É um animal carnívoro e dizem ser solitário e uma espécie exótica. A toupeira é um mamífero pequenino que vive no subterrâneo. Tem olhos e ouvidos muito pequenos e se guiam mais pelo tato e olfato. Daí a comparação que parece no populário significar não enxergar muito bem. Assim penso eu! A grande verdade é que estamos sempre observando os outros, de forma nem sempre amistosa, quando esquecemos de observar quem realmente somos e como agimos.

O frei ainda cita Jesus Cristo, que ao enfrentar a mesma mania de só verem defeitos dos outros, perguntou: “Por que vês o cisco no olho do teu irmão e não vês a mesma trava no teu?” (Mt 7,3). É o mesmo que diz o provérbio mongol, o néscio está pronto e atento para ver os defeitos do outro, mas nega a se enxergar, a se observar. Não consegue perceber a trava que obstrui os seus olhos, que, por consequência, trava, também, sua capacidade de raciocinar, de pensar com lucidez e sentimento humanitário. Por falar em sentimento humanitário, o frei ainda cita o ensinamento de Jesus Cristo, pois Ele não diz a mesma coisa quando manda amar o próximo como nos amamos a nós mesmos? (Mc 12,31). Se devemos amar o próximo como a nós mesmos, significa que devemos desejar a ele todo o bem que desejamos a nós! Não há como nos amarmos e dizer que amamos o próximo, quando estamos sempre a procurar defeitos nele e denegri-lo perante os outros ou nas penumbras. Seria puro fingimento, falsidade e não tem nada de amor ao próximo. O mundo seria bem melhor se o amor prevalecesse em toda a humanidade.

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no Mec formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: luizguilhermewintherdecastro@hotmail.com

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