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Prova de Vida ou de tolerância?

Foto: Reprodução.

LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO

 

Aposentado e beneficiário do INSS, fui ao Banco Mercantil de Formiga na quinta à tarde para a imprescindível Prova de Vida.
Cheguei à agência poucos minutos após as 14 horas. Coisa de 20 minutos. Disseram: atendimento para esse fim só até às 14 horas.
Respondi à atendente:

— “Como assim, vejo funcionários no interior da agência em seus postos? Um daqueles não pode me atender? Estão ao telefone. Possivelmente, avisando da necessária Prova de Vida que temos de fazer ou tentando captar Crédito Consignado com os aposentados. Ligam para mim direto. É rapidinho, moça. Veja na gerência”.
Educadamente, explicou-me:

— Trata-se de trabalho interno. Prova de Vida só até às 14 horas mesmo. Volte amanhã, ou, se não der, na segunda. Pode ser?
Com firmeza e relutância, posicionei-me:
— O fato de estar aqui, ao vivo e em cores, já não constitui prova suficiente de que estou vivo? Num lampejo, à sua frente, em acrobático demonstrativo, fiz o tradicional “quatro num cruzar de pernas”. E completei. Há câmeras por todos os ângulos e testemunhas por perto. Pelo menos, umas vinte pessoas.
Sem jeito para maiores explicações, adiantou:
— Isso é verdade… Tem razão. Mas o senhor venha outro dia. Temos que fazer o registro, cumprir o protocolo, tirar foto… Não é bem assim.
Meio que desanimado, voltei à carga, com tudo:
— Tratando-se de prova de vida, não basta eu vir aqui, demonstrar que estou vivo, inteiramente vivo, e pronto?
Já impaciente, interveio a atendente:
–É, mas, não é. Não posso fazer nada. Obedecemos a critérios, normas, em especial quanto ao horário de atendimento.
Fui às alturas naquele ponto crucial e filosófico:
— Senão, vejamos: horário não é tempo e tempo não tem a ver com a vida que levamos aqui na terra?
Perdida no cipoal das conjecturas, sem mais o que falar, prestes a me passar uma compostura, limitou-se a dizer:
— O senhor tem razão. Mas, volte aqui amanhã ou outro dia, mas na hora certa! Pode ser? Eu não posso fazer nada!
Detive-me, chateado. Não sabendo por certo se poderei voltar, fiquei no gatilho do “quem sabe”.
— De minha parte, vou me empenhar. Sob pena de suspenderem e cortarem meu benefício, esse é o meu propósito. O de seguir a lei.
Depois que deixei a agência, detive-me em angústia e perplexidade. E dúvida há de persistir. Posso de fato cravar certeza de que poderei voltar no dia seguinte, ou na segunda, terça — sabe-se lá o dia –, antes das 14 horas? Afinal de contas, o tempo não é meu, não é da moça atendente, do gerente, nem da agência bancária, nem de ninguém.
Aprendi no Educandário Senhor Bom Jesus dos Passos, quando criança, que o tempo é de Deus. Em soberana pluralidade, a ele o futuro pertence. Aos bancos, os bilionários lucros e as costumeiras tapeações.

LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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