ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS
Vira e mexe, passam-se os anos e as décadas e o mundo democrático que por sinal é restrito, se vê ameaçado por ondas de extremismos antidemocráticos. Até mesmo na Europa Ocidental berço da democracia moderna, os riscos estão na ordem dos dias. Nos países de democracias consolidadas se notam as constantes ameaças pelo reavivamento do neofascismo atuante por grupos e partidos da extrema direita. Na França o partido de extrema direita, Reunião Nacional, de Marine Le Pen, apesar de derrotado na recente eleição, se consolida como terceira força política do país. Na Alemanha, onde surgiu o nazismo que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial, foi necessária a criação de leis para proibir as organizações de extrema-direita de existir e coibir a divulgação da ideologia nazista. Todos os demais países europeus também possuem as suas parcelas de extrema direita ameaçando a democracia. A extrema direita tem aparecido com mais frequência nos noticiários nos últimos tempos porque tornou-se um fenômeno de organização internacional. Com amplitude na América Latina a extrema direita já está representada com lideranças da família Bolsonaro no Brasil e da família Milei na Argentina.
Os movimentos de extrema direita, apesar de apresentarem variações conforme regiões no mundo, daí possuírem muitos posicionamentos comuns. Sua ideologia tem caráter ultraconservador, extremista e golpista. Em muitos casos, seus adeptos adotam posturas preconceituosas e xenófobas. Com fortes tendências ao neofascismo, o neonazismo, a supremacia branca, o nacionalismo branco e visões ultranacionalistas, chauvinistas, nacionalistas, teocráticas, racistas, homofóbicas e reacionárias. A política de extrema-direita não esconde os seus objetivos mesmo atuando no processo democrático do qual se beneficia das liberdades para pregar golpes de Estado. As doutrinas e princípios do neofascismo eivadas de ódio com profundas tendências para levar à opressão, violência política, assimilação forçada, contra grupos de pessoas com base na suposta inferioridade, ou na percepção de ameaça ao grupo étnico nativo, impor uma religião nacional, uma cultura dominante e instituições sociais tradicionais ultraconservadoras. É o que pensam é o que gostam e querem impor!
O futuro da democracia fica realmente ameaçado devido a vários fatores, porém o mais preocupante de todos é o empoderamento do neofascismo nos EUA, que ainda é a nação mais rica e poderosa do mundo. Aliás, atualmente, as fontes que realimentam os movimentos da extrema direita pelo mundo são dos Estados Unidos da América. Apesar de ser considerada a nação exemplo de democracia no mundo, o fascismo estadunidense tem raízes profundas na sua história e hoje reforçado por lideranças religiosas espalhadas pelo interior do país, Centro Oeste, levando massas de milhões de pessoas ao medo do comunismo, dos imigrantes oriundos de países do terceiro mundo e até de alienígenas. Enfim, o neofascismo necessita de espalhar medos e polarização ainda que fantasiosa para mobilização de seus adeptos. A extrema direita, por enquanto, por motivos táticos, está longe de ser uma corrente periférica em solo americano e engana-se quem pensa que lá os ultraconservadores são dependentes de Donald Trump, como os nazistas eram de Hitler. O fenômeno é muito mais amplo. Trump lá, assim como Bolsonaro aqui no Brasil são apenas catalisadores de votos, portanto úteis aos programas tanto da direita como da extrema direita. Infelizmente a própria direita fecha os olhos para as traquinagens da sua parcela extremista e o preço a pagar será perder sua de identidade de força conservadora liberal.
Existe luz no fim desse tenebroso túnel? Existe, pois exceto a morte, para tudo neste mundo tem conserto. O combate das forças progressistas e populares contra o neofascismo tem sido mais eficaz na Europa, aqui no Brasil pelo lento correr da carruagem, parece esperar que tal movimentação caia no vazio e mais cedo ou mais tarde o povo brasileiro vai se libertar do pesadelo neofacista. Mas e o preço a pagar?
Sabemos que não há nenhuma receita mágica ou aleatória para combater a extrema-direita neofascista. Ainda mais quando enormes parcelas da população brasileira são despolitizadas. A ideologia dominante de consenso neoliberal da burguesia controla os meios de comunicação e tudo isto conspirando a favor da onda neofascista, tudo isso mostram-nos que já está passando da hora das forças progressistas e populares brasileiras buscarem como se inovar, a fim de defender a nossa frágil democracia.
ESDRAS AZARIAS DE CAMPOS é Professor de História