Opinião

Por quê recursos da região, estão indo para Hidrovia do Tietê-SP?

15 de maio de 2025

Foto: Reprodução

Ataíde Vilela

Em 1960, para viabilização e construção a usina de Furnas, JK-Juscelino Kubischeck, presidente da República, com objetivo de “construir em 5 anos, o que deveria ser feito em 50 anos”, para industrializar o país e afastar a grande ameaça de caos, no abastecimento de energia elétrica, levou adiante aquele grande projeto. Assim, para formação do grande reservatório da usina de Furnas, foram inundados, cerca de 1.350 km2, área equivalente a 135.000 hectares de terras, localizadas em regiões mais férteis, em 34 municípios. Logo se formou um dos maiores lagos artificiais do país, que impactou e sacrificou a vida de milhares de famílias, que residiam em Guapé, São José da Barra, Alpinópolis, Carmo do Rio Claro e mais de 48 cidades, de nossa região. A mesma história aconteceu, por ocasião da formação de outro Lago, o de Peixoto, também em nossa região, onde os mesmos danos se repetiram, em cidades como Passos, São João Batista do Glória, Delfinópolis e Cássia, além de outros municípios como por exemplo Itaú de Minas e Pratapolis, que tem córregos, ribeirões e rio, que desaguam nesse Lago. Acredito que JK foi um grande presidente, visionário, e administrador, que teve todos os méritos no processo de industrialização do Brasil.  Cumpriu com todos os compromissos que havia assumido. Mas, como não se indignar com essa “ferida social” que continua aberta, em nossa região? E como concordar, que recursos financeiros sejam desviados de nossa região, para Hidrovia do Rio Tietê, em São Paulo?

Passados mais de 65 anos, não só a usina de Furnas, mas toda a empresa FURNAS, foi entregue para especuladores, de plantão, a preço de “liquidação ou promoção”. FURNAS, esse grande patrimônio construído com muito sacrífico e lágrimas, de milhares de família simples e da roça, que perderam suas terras, sem que houvesse indenizações justas, lamentavelmente, foi “liquidado”, sem que fosse restituído perdas significativas para esses municípios, como: pontes submersas, estradas destruídas, ilhamento de diversas cidades, perdas com diminuição de territórios e redução de produção de alimentos, nas áreas inundadas. Como não sensibilizar com isso?  É certo que JK tinha como objetivo principal, industrializar o país e para isso, era necessário e premente suprir de energia elétrica, as maiores cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mas, acredito que se JK vivo estivesse, não concordaria também com o que está acontecendo em nossa região!

Agora, com a Lei de Desestatização de FURNAS/ELETROBRAS, os 52 municípios do Lago de Furnas e as 7 cidades do Lago de Peixoto, de nossa região, assim como todas as demais, onde houveram impactos econômicos, sociais e ambientais por construção das demais usinas dessa grande empresa, poderão fazer valer seus direitos, reivindicando que esses recursos financeiros, da ordem de R$230 milhões de reais, por ano, durante 10 anos, totalizando R$2 bilhões e 300 milhões de reais e, que serão destinados a despoluição e melhorias para essas cidades, localizadas nos Lagos nas bacias de FURNAS. Assim, por uma questão lógica e para que haja a plena revitalização das bacias de Furnas, torna-se necessário e premente, que toda essa carga total de dejetos sanitários e industriais, formada por todas as cidades, localizadas no entorno destes Lagos de Furnas, seja captada e devidamente tratada, para só depois disto, ser lançada nos Lagos de FURNAS. Ainda, conforme essa Lei, caberá à Eletrobrás assumir uma série de programas sociais e ambientais. Assim, por quê, não continuar sonhando com as pontes de Delfinópolis à Cassia e de Guapé a São José da Barra, acabando com o ilhamento, a que foram impostas? Por quê também, não sonhar a construção dos trechos da rodovia BR-146, que liga São João Batista do Glória até Delfinópolis, e daí até Sacramento e de São João Batista do Glória até o entroncamento com a MG-050, próximo a ponte, situada à jusante da usina de Furnas?  Por quê, também não sonharmos com a reativação que a estação da Piscicultura de Furnas, possa cuidar do repovoamento desses Lagos de Furnas, assim como da qualidade dessas águas, realizando o seu monitoramento? Afinal, essas reivindicações são justas e necessárias, podendo fechar a grande “chaga aberta”, há mais de 65 anos em nossa região! Acredito que a obra da Hidrovia do Rio Tietê, não nada a ver com nossa história. E por isso mesmo, não faz jus e nem merece receber recursos financeiros, de nossa região, onde aconteceram impactos econômicos, sociais e ambientais. Basta, para isso, que se tenha disposição e vontade política, para lutar e colocar esses projetos como prioridade, na pauta de nossa região!!!

Ataíde Vilela, engenheiro civil, foi prefeito de Passos nas gestões 2005/2008 e 2013 a 2016