CINEMA
Envolto em muita polêmica desde seu lançamento nos EUA em junho passado, “Som da Liberdade” chega nesta semana ao Cine Roxy, em Passos, marcado por uma nova polêmica que acaba de explodir na mídia.
Tim Ballard, o sujeito retratado como um herói aqui, está sendo acusado por, pelo menos, sete mulheres de abuso sexual. Algo, no mínimo, contraditório – além de criminoso, se provado – para uma pessoa que fez sua fama resgatando crianças vendidas para o tráfico sexual.
O filme, dirigido pelo mexicano Alejandro Monteverde, se tornou um sucesso de bilheteria inesperado – batendo os novos “Missão Impossível” e “Indiana Jones”. Mas isso não se explica por suas inexistentes qualidades. Adotado pela extrema-direita conspiracionista QAnon – uma facção com a qual simpatiza seu astro protagonista Jim Cavizel –, o longa recebeu elogios e defesas de diversas figuras desse espectro, de Donald Trump a Mario Frias.
Se, por um momento, se pudesse ignorar todas as questões políticas envolvendo o filme (embora não seja), e apenas se pensasse nele como cinema apartado do mundo real, mesmo assim seria um longa bastante ruim. Sua trama, mesmo lidando com questões sérias, é, além de previsível, mero veículo para loas ao seu protagonista, um ex-agente da política americana que largou tudo pela causa de salvar crianças sequestradas e vendidas como objetos sexuais.
Ballard, interpretado por Caviezel com o cabelo tingido de loiro, é um homem de classe média, fiel a Deus, casado com uma mulher igualmente loira e temente a Deus, interpretada por Mira Sorvino, e juntos têm um punhado de filhos e filhas. O filme começa na Colômbia, com uma menina, Rocio (Cristal Aparicio), e seu irmão menor, Miguel (Lucás Ávila), sendo aliciados por uma ex-miss (Yessica Borroto Perryman) passando-se por caça-talentos.
Sequestrados, passando por horrores com outras crianças, a dupla acaba separada quando o menino é comprado por um pedófilo americano. Quando esse homem acaba preso por Ballard, o menino conta ao policial que também tem uma irmã, que foi sequestrada e está desaparecia. Essa será a primeira grande missão desse exército de um homem só, mas com muito dinheiro, que corre os maiores riscos para salvar a menina colombiana.
O roteiro, assinado pelo diretor e Rod Barr, tem momentos dramáticos risíveis e outros conspiracionais mais risíveis ainda – o ponto alto é uma seringa com um chip de GPS que é dada para Ballard e um aliado se injetarem quando entrarão na floresta para tentar salvar Rocio. Outra coisa que chama a atenção é como as personagens femininas são tratadas: ou são vilãs ou sacrossantas esposas em casa, cuidando do marido e dos filhos, não há uma na equipe de Ballard no filme. Ao contrário da vida real, na qual, segundo as acusações, ele coagiu mulheres a se passarem por sua esposa – com direito a banho conjunto e dividir a cama – para, supostamente, enganar os traficantes de crianças.
SOM DA LIBERDADE (Sound of freedom) EUA, 2023. Gênero: Suspense, Drama. Classificação: 16 anos. Direção: Alejandro Gomez Monteverde. Elenco: Jim Caviezel, Mira Sorvino, Eduardo Verástegui, Javier Godino, Bill Camp. Cine Roxy, em Passos, 18h30 (Dub)