O negacionismo econômico do governo Lula é inegável. A disparada recente do dólar, a gradual perda de perspectiva de investimentos internacionais, a constante ameaça da volta da inflação, dentre outros aspectos, são apenas sintomas e consequências da profunda irresponsabilidade fiscal da atual Esplanada, em Brasília. Legislativo e Judiciário têm sociedade nessa desgraça, mas é o Executivo quem deve promover políticas econômicas e fiscais saudáveis, reformas e cortes de gastos. Lula, porém, não faz nada disso.
A reforma do teto de gastos ancorou sua fórmula num hipotético e fictício incremento de receitas; a reforma tributária até promete simplificar o sistema para a maioria, mas manteve muitas exceções e uma única certeza: haverá aumento de carga tributária, seja pela ausência de uma trava efetiva, a despeito dos discursos do governo e das emendas propostas pela oposição para garanti-la, seja pela própria dinâmica do texto aprovado. Estima-se o maior Impostos sobre Bens e Serviços (IBS) do mundo no Brasil quando todas as leis complementares estiverem aprovadas.
Aumentos salariais para servidores públicos, novos concursos, incremento desmedido na assistência social sem programas eficientes para inserir a população atendida no mercado de trabalho, mais rentável e muito mais dignificante. Lançamentos de duvidosos programas de investimentos em obras públicas, incluindo a reabilitação de empresas já condenadas por corrupção babilônica no passado recente, e a insistência numa mentalidade retrógrada que reverteu inúmeros programas de concessões, processos de privatização e encerramento de atividades de estatais ineficientes, desnecessárias e profundamente deficitárias.
Não é preciso desenhar: os parágrafos anteriores descrevem com exatidão a fórmula para o caos econômico de um país qualquer país. No entanto, o negacionismo econômico petista é tão empedernido que não consegue admitir um único de seus próprios erros. Precisa buscar falsos inimigos externos para justificar suas consequências. E invariavelmente os encontra.
Após meses de trégua, a debacle lulista nos mercados e nas pesquisas de opinião popular ressuscitou a antipatia pública e rasteira do governo pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Provavelmente a lei mais importante aprovada na legislatura passada foi justamente a que firmou a autonomia da instituição. Garantir seu afastamento dos humores da política e blindar sua gestão da irresponsabilidade de governos de turno foi fundamental para sobrevivermos aos dois primeiros anos do
petismo.
A crítica dos petistas, inclusive de Lula, àquele que já foi considerado o melhor presidente de Banco Central do mundo por especialistas, dá principalmente dois sinais: o primeiro, inequívoco, de que ao tentar alvejar o mensageiro que alerta sobre os desatinos fiscais do Planalto, o governo segue a cabresto sua ideologia marxista anacrônica e dos oportunistas políticos e empresariais que o parasitam. Segundo: confirma a inescapável Lei de Murphy de que não há nada que seja tão ruim que não possa piorar, afinal, o mandato de Campos Neto está chegando ao fim.
A saída de Roberto Campos Neto do Banco Central já tem data: será no dia 31 de dezembro. Apesar de todos os covardes e injustos ataques que recebeu no início do governo Lula e que voltaram a se intensificar, Campos Neto está cumprindo com a função que lhe foi confiada com o denodo e responsabilidade de um estadista. Em
momento algum transpareceu que poderia abandonar o posto, em nenhum momento fugiu ao seu compromisso com o Brasil.
O país deve a Campos Neto a gratidão por não ter permitido que chegássemos em tempo recorde ao fundo do poço ao qual, invariavelmente, espiralam as inspirações chavistas e kirchneristas de Lula e de Haddad. No entanto, com o prazo vincendo de seu mandato, um novo presidente do BC vem por aí. Da mesma forma como Roberto Campos conteve uma derrocada maior da economia, a indicação de Lula para o posto tem potencial para acelerá-la exponencialmente.
Se Lula está achando ruim a performance da nossa economia agora, espere até começar o mandato de seu novo indicado para presidir o Banco Central. Dado o negacionismo econômico de seu governo, e a prodigalidade em indicar péssimos nomes para as posições econômicas no ministério, só há uma certeza a partir da saída de Campos Neto: o governo terá de encontrar outro suposto inimigo externo para justificar sua
própria irresponsabilidade com a economia do Brasil.
MARCEL VAN HATTEM é deputado federal em segundo mandato pelo Novo-RS, bacharel em Relações Internacionais. É mestre em Ciência Política pela Universidade de Leiden; em Jornalismo, Mídia e Globalização pelas Universidades de Aarhus/Dinamarca e de Amsterdã – Holanda.